Friday, November 30, 2007

SMS = Sexta Menos Saltitante


Rilo Kiley, «I Never», More Adventurous

Happy Birthday, Jonathan

Não fosse a celebração destes 340 anos, e a humanidade não teria conhecido uma das obras mais fascinantes da ficção de todos os tempos. Eis Gulliver, na terra mais insólita que visita (não, não é Lilliput):

We next went to the School of Languages, where three Professors sate in Consultation upon improving that of their own country. The first Project was to shorten Discourse by cutting Polysyllables into one, and leaving out Verbs and Participles, because in reality all things imaginable are but Nouns.
The other, was a Scheme for entirely abolishing all Words whatsoever; and this was urged as a great Advantage in Point of Health as well as Brevity. For it is plain, that every Word we speak is in some Degree a Diminution of our Lungs by Corrosion, and consequently contributes to the shortning of our Lives. An Expedient was therefore offered, that since Words are only Names for Things, it would be more convenient for all Men to carry about them, such Things as were necessary to express the particular Business they are to discourse on. And this Invention would certainly have taken Place, to the great Ease as well as Health of the Subject, if the Women in conjunction with the Vulgar and Illiterate had not threatned to raise a Rebellion, unless they might be allowed the Liberty to speak with their Tongues, after the manner of their Ancestors; such constant irreconcilable Enemies to Science are the common People. However, many of the most Learned and Wise adhere to the New Scheme of expressing themselves by Things, which hath only this Inconvenience attending it, that if a Man's Business be very great, and of various kinds, he must be obliged in Proportion to carry a greater bundle of Things upon his Back, unless he can afford one or two strong Servants to attend him. I have often beheld two of those Sages almost sinking under the Weight of their Packs, like Pedlars among us; who, when they met in the Streets, would lay down their Loads, open their Sacks, and hold Conversation for an Hour together; then put up their Implements, help each other to resume their Burthens, and take their Leave.
But for short Conversations a Man may carry Implements in his Pockets and under his Arms, enough to supply him, and in his House he cannot be at a loss: Therefore the Room where Company meet who practise this Art, is full of all Things ready at Hand, requisite to furnish Matter for this kind of artificial Converse.Another great Advantage proposed by this Invention, was that it would serve as a Universal Language to be understood in all civilized Nations, whose Goods and Utensils are generally of the same kind, or nearly resembling, so that their Uses might easily be comprehended. And thus Embassadors would be qualified to treat with foreign Princes or Ministers of State to whose Tongues they were utter Strangers.

Jonathan Swift, Gulliver's Travels, Part III: A Voyage To Laputa, Balnibarbi, Luggnagg, Glubbdubdrib and Japan

E como o dia é de aniversários e o da morte de Pessoa é para esquecer e não para lembrar, celebre-se os 70 de Ridley Scott, sem gangster americano e com o Vangelis nas veias, na que será sempre a sua obra-prima. Blessed Blade Runner.

Wednesday, November 28, 2007

Tresler Camões

TRÍPTICO / I

«Transforma-se o amador na coisa amada» com seu
feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si.
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas.

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
a coluna vertebral e o espírito
das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.
O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada.

Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
Que escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
a arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve
e vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
anterior de amor.

E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
do amor. Enquanto em cima
o silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo
e do amor.

Herberto Helder

Tuesday, November 27, 2007

Tuesday's Friday Mood

Olhos Dobrados IX

Augusto de Campos, «Olho por Olho», 1964

A fantasia de se sentir embalado pelo mundo

Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado) e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá ao fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.

Raduan Nassar, «Aí pelas três da tarde» (1972),
in Menina a Caminho, 1994

Um copo de sangue, brinde a Raduan Nassar

Com a víbora no músculo viscoso da língua
soltava o pensamento na vermelhidão -
- os dentes mordendo-lhe a boca
como se mordessem a carne macia do coração
pendurado no talho de outra vida.
Desenhava a sua geometria passional
com mãos de dorso largo, tronco
de um vulto em chamas -
cada bolha de fogo envenenada de silêncio,
o alicate para lhe arrancar uma palavra de água:
eu não tive o bastante,
mas tive o suficiente

para me esvair nas tuas unhas em fogo

Monday, November 26, 2007

Cheer Up! It's Monday! ou November Mood ou The Overwhelming Question ou Why Do I Love Covers III

Em maré de Belo


PORTUGAL SACRO-PROFANO
Vila do Conde

O lugar onde o coração se esconde
é onde o vento norte corta luas brancas no azul do mar
e o poeta solitário escolhe igreja pra casar
O lugar onde o coração se esconde
é em dezembro o sol cortado pelo frio
e à noite as luzes a alinhar o rio
O lugar onde o coração se esconde
é onde contra a casa soa o sino
e dia a dia o homem soma o seu destino
O lugar onde o coração se esconde
é sobretudo agosto vento música raparigas em cabelo
feira das sextas-feiras gado pó e povo
é onde se consente que nasça de novo
àquele que foi jovem e foi belo
mas o tempo a pouco e pouco arrefeceu
O lugar onde o coração se esconde
é o novo passado a ida pra o liceu
Mas onde fica e como é que se chama
a terra do crepúsculo de algodão em rama
das muitas procissões dos contra-luz no bar
da surpresa violenta desse sempre renovado mar?
O lugar onde o coração se esconde
e a mulher eterna tem a luz na fronte
fica no norte e é vila do conde


Ruy Belo, Homem de Palavra[s], 1970

Sunday, November 25, 2007

Dominó I, II e III

Efeito dominó 1: a propósito de Les Uns et Les Autres

Geraldine Chaplin & Michel Legrand, «Un Parfum de Fin du Monde»

Efeito dominó 2: a propósito do Bolero de Ravel

Rufus Wainwright, «Oh What a World»

Efeito dominó 3: a propósito de grandes finais com grandes clássicos

Morte a Venezia, dir. Luchino Visconti, 1971, música de Mahler

Saturday, November 24, 2007

Maurice mourut

Assim se entende que a cena final de Les Uns et Les Autres, de Claude Lelouch, seja tão absolutamente inesquecível. Já não bastava o outro Maurice ter criado uma das composições mais breathtaking da história da música, ainda tinha este Maurice que fazer dela uma das danças mais breathless de todos os tempos. Maurice est mort, survit le corps.

Maurice Béjart, 1 Jan. 1927-22 Nov. 2007


Jorge Donn in Les Uns et Les Autres, dir. Claude Lelouch, 1980

L’homme s’est aperçu qu’il possédait plus de vigueur, plus de souplesse, plus de possibilités articulaires et musculaires qu’il n’en avait besoin pour satisfaire aux nécessités de son existence et il a découvert que certains de ces mouvements lui procuraient par leur fréquence, leur succession ou leur amplitude, un plaisir qui allait jusqu’à une sorte d’ivresse, et si intense parfois, qu’un épuisement total de ses forces, une sorte d’extase d’épuisement pouvait seule interrompre son délire, sa dépense motrice exaspérée.

Paul Valéry, «Philosophie de la Danse», 1930

Friday, November 23, 2007

Diz que...

...lá para os lados dos Discos Perdidos esta é a soundtrack do fim-de-semana :).

Thursday, November 22, 2007

22 de Novembro de 1710: Não há regresso após tanta invenção



Alegra-me. Mas não para alegrar-me
foi concebida em racionais delírios
de pautas e compassos. Foi-o, sim,
para que eu saiba que criar não basta
se não se for criado assim do nada.


São contra a morte, ou contra a vida, as vozes
que tão fugatamente desconversam?
São contra a terra ou contra o céu as pausas
quase que imperceptíveis que retornam?
São contra as coisas ou são contra os homens
certas singelas notas que persistem?

Ou a favor? Não sei. Talvez que sejam
uma existência que se vive ouvindo
apenas o fluir da música nascida
de não fluir mais nada que não seja a vida.


A música é só música, eu sei. Não há
outros termos em que falar dela a não ser que
ela mesma seja menos que si mesma. Mas
o caso é que falar de música em tais termos
é como descrever um quadro em cores e formas e volumes, sem
mostrá-lo ou sem sequer havê-lo visto alguma vez.
Vejamo-lo, bem sei, calados, vendo. E se a música
for música, ouçamo-la e mais nada.

Quando, no fim,
aquele tema torna não é para encerrar
num círculo fechado uma odisseia em teclas,
mas para colocar-nos ante a lucidez
de que não há regresso após tanta invenção.
Nem a música, nem nós, somos os mesmos já.


Neste silêncio, que ficou, flutua?
O quê?
Nós?
Como tão pouco restaria?

Jorge de Sena, «Prelúdios e Fugas de J. S. Bach, para órgão», «Concerto 'Brandenburguês' nº. 1 em Fá Menor, de J. S. Bach» e «Bach: Variações Goldberg», Arte de Música

Cheap November

E como não há meses perfeitos, este, que é quase quase perfeito, tem o pior problema de todos os meses: é protagonista de uma das tiradas mais desastrosas de toda a história do cinema.

Would you like to be my November?

Wednesday, November 21, 2007

Looks like it's happened again...


The Magic Numbers
I See You, You See Me

Tuesday, November 20, 2007

Evening

Claire Daines/Hugh Dancy
Evening, 2007, dir. Lajos Koltai

Your first mistake is like your first kiss: you never forget it.

Éloge de la Pluie


Guillaume Apollinaire, Calligrammes, 1918

Il pleut des voix de femmes comme si elles étaient mortes même dans le souvenir.
c’est vous aussi qu’il pleut, merveilleuses rencontres de ma vie. ô gouttelettes!
et ces nuages cabrés se prennent à hennir tout un univers de villes auriculaires
écoute s’il pleut tandis que le regret et le dédain pleurent une ancienne musique
écoute tomber les liens qui te retiennent en haut et en bas

Cem Clouzot



Henri-Georges Clouzot
n. 20 de Novembro de 1907






Monday, November 19, 2007

Les Affinités Electives


Jeanne Moreau & Boris Bassiak, «Le Tourbillon de la Vie»
Jules et Jim, dir. François Truffaut, 1962


Le balancement du rocking chair nous convie aux plaisirs de la chair



Jeanne Moreau & Vanessa Paradis, Le même tourbillon
Cannes, 1995

Quand on s'est connus,
Quand on s'est reconnus,
Pourquoi se perdre de vue,
Se reperdre de vue?

Alors tous deux on est repartis
Dans le tourbillon de la vie
On a continué à tourner
Tous les deux enlacés
Tous les deux enlacés.

Sunday, November 18, 2007

Sliding Doors












My Moon My Man
@ Louie Louie Deluxe


Criação

O verbo nunca esteve no início
dos grandes acontecimentos.
No início estamos nós, sujeitos
sem predicados,
tímidos,
embaraçados,
às voltas com mil pequenos problemas
de delicadezas,
de tentativas e recuos,
neste jogo que se improvisa à sombra
do bem e do mal.

No início estão as reticências,
este-querer-não-querendo,
os meios-tons,
a meia-luz,
os interditos
e as grandes hesitações
que se iluminam
e se apagam de repente.

No início não há memória nem sentença,
apenas um jeito do coração
enunciar que uma flor vai-se abrindo
como um dia de festa, ou de verão.

No início ou no fim (tudo é finício)
a gente se lembra de que está mesmo com Deus
à espera de um grande acontecimento,
mas nunca se dá conta de que é preciso
ir roendo,
roendo,
roendo
um osso duro de roer.

Gilberto Mendonça Teles

Her Choice

VÍTOR ESPALDA
Das Ist Fussball
A la Esquierda
Everything but these paitings @ Galeria João Lagoa

Friday, November 16, 2007

Parabéns, José. Parabéns, valter.

Celebra hoje 85. No que me diz respeito, escreveu isto. Nunca mais o esqueci.



Este ano, o Prémio Literário a que dá nome foi atribuído a
valter hugo mãe.

Eis baltazar.

Chema Madoz






Cirurgia

Do grego χειρουργία: χείρ, χειρός (mão) + εργον (obra, trabalho).
Cirurgia, a obra nas mãos.

Sniff

Logo vai ser assim.
Sexta-feira sem mim :(



Cada um sabe dos gostos que tem
Suas escolhas, suas curas
Seus jardins
De que adianta a espera de alguém?
O mundo todo reside
Dentro, em mim

Cada um pode com a força que tem
Na leveza e na doçura
De ser feliz.

Onde Ir
Vanessa da Mata

Da Baba



Thursday, November 15, 2007

A Porta da Rua

Vou para a tua rua vender
as flores que disseste
Vou para a tua rua olhar
parar de olhar o trânsito dos
teus lábios a passar
Vou para a tua rua não sei
onde é a tua rua vou para a tua
rua cantar muito baixinho
sem vez para a minha voz porque
não sei onde fica a tua rua
onde ficas na tua rua nua
Não vou parar na tua rua porque
não saberei ver a tua rua com os teus
olhos nos meus
pousados não verei nem a tua rua nem
os olhos nos meus olhos rebentados
irei para a tua rua de olhos bem abertos
e vendados



She lingers long on love street

Wednesday, November 14, 2007

After Eighties: No Rescaldo ou Tesourinhos Não-Deprimentes XX

Happy Birthday, Claude


Claude Monnet, Les Coquelicots, 1873

Haverá alguma coisa mais bonita de se dizer do que coquelicots? Talvez papaveri. Ou poppies. Mas sempre papoilas.

Fotogramas da Semana

Assinalando simbolicamente o dia em que passam 33 anos sobre a sua morte...

Vittorio de Sica, Ladri di Biciclette, 1948

Sessão de Abertura do Cineclube Italiano na FLUP
Concepção, organização e programação: David Barros

Tuesday, November 13, 2007

Italian Mood


Never Ending Story

Flesh, fair, unique, and you, warm secret that my kiss
Follows into meaning

From moment to moment as you enrich them so
Inherit me, my cause, as I would cause you now
With mine your sudden joy, two wonders as one vow
Pre-empting all, here, there, for ever, long ago.

I would smile at no other promise than touch, taste, sight,
Were there not, my enough, my exaltation, to bless
As world is offered world, as I hear it tonight

Pleading with ours for us, another tenderness
That neither without either could or would possess,
The Right Required Time, The Real Right Place, O Light.

W.H. Auden, cortadinho

Friday, November 9, 2007

Thursday, November 8, 2007

Final Countdown: Step 2




Punctum: a vozinha do Jimmy Sommerville muito escondidinha no background

Wednesday, November 7, 2007

Uma fiel dedicação à honra de estar vivo

Francisco de Goya
El tres de Mayo de 1808 en Madrid
, 1814

Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando
lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer uma delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu
semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos,
apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum juízo final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena

My Other Prado ou A Caça Infernal

Boccaccio por Botticelli
Nastagio degli Onesti

i cani, presa forte la giovane né fianchi, la fermarono, e il cavaliere sopraggiunto smontò da cavallo

il cavaliere, messo mano ad un coltello, quella aprì nelle reni, e fuori trattone il cuore e ogni altra cosa d'attorno, a'due mastini il gittò, li quali affamatissimi incontanente il mangiarono

Essendo adunque già venuta l'ultima vivanda, e il romore disperato della cacciata giovane da tutti fu cominciato ad udire. Di che maravigliandosi forte ciascuno e domandando che ciò fosse, e niun sappiendol dire, levatisi tutti diritti e riguardando che ciò potesse essere, videro la dolente giovane e 'l cavaliere è cani

Final Countdown: Step 1


Tuesday, November 6, 2007

French Bliss par André Kertész

Des yeux qui font baiser les miens

My Reina Sofia

André Kertész, Vidro Partido, 1929

Paris, Je T'Aime: A French Kiss



My Prado






Brueghel & Rubens
Alegoria da Visão

Monday, November 5, 2007