Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido à chegada do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia o que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor - sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro, através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.
Monday, June 20, 2011
Teoria das cores
Herberto Helder, Os Passos em Volta
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Thursday, June 16, 2011
Não o leio por ler, mas para me encostar ao seu peito.
Kafka sobre A. Strindberg
Seen by Joana Blu at 4:05 AM 0 glimpses
Monday, June 13, 2011
Prelude
How could I love you more?
I would give up
Even that beauty I have loved too well
That I might love you better.
Alas, how poor the gifts that lovers give —
I can but give you of my flesh and strength,
I can but give you these few passing days
And passionate words that, since our speech began,
All lovers whisper in all ladies' ears.
I try to think of some one lovely gift
No lover yet in all the world has found;
I think: If the cold sombre gods
Were hot with love as I am
Could they not endow you with a star
And fix bright youth for ever in your limbs?
Could they not give you all things that I lack?
You should have loved a god; I am but dust.
Yet no god loves as loves this poor frail dust.
Richard Aldington
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TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar, Na Vertigem do Dia
Seen by Joana Blu at 5:57 AM 0 glimpses
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