Wednesday, October 31, 2007
Leaving on the next plane
Steve McCurry Madrid 1995
Madrid
Diversa Madrid, criada
Com fundo calor humano,
Teu encanto não se mede
Por monumento ou paisagem.
Não sendo antiga nem atual,
Donde teu encanto, Madrid?
Vem direto do teu povo
Denso, nervoso, sensível,
Que sabe amar, dialogar,
Dividir gozo e trabalho,
Racionalizar sua pena
E despistar o cronômetro.
Esse encanto vem ainda
De tuas mulheres intensas,
Nascidas para lucir;
Dos teus espaços abertos,
Cantantes, comunicantes;
Dos teus ares circulares
Filtrados nos altos filtros
Da serra de Guadarrama.
*
Diversa Madrid dos gritos
Ocultos ou manifestos:
Sopra aqui um vento afiado
De conspiração permanente.
Não és cidade montada
Para o prazer do turista,
Nem medieval ou futura:
Madrid nervosa e desperta,
És o posto cotidiano
Com dimensão definida,
Onde se aprende bem cedo
O rude ofício da vida.
Murilo Mendes, Tempo Espanhol
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Labels: Photography, Poetry
Deveria ir de carro?
Será um fenómeno com explicação cultural? O Simca 1000 dos Inhumanos, o Cadillac dos Trogloditas... Algo se passa no reino de Leão e Castela.
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Labels: Music
Tuesday, October 30, 2007
Viajar, Perder Cidades
Imagens em Castela
Se alguém procura a imagem
da paisagem de Castela
procure no dicionário:
meseta provém de mesa.
É uma paisagem em largura,
de qualquer lado infinita.
É uma mesa sem nada
e horizontes de marinha
posta na sala deserta
de uma ampla casa vazia,
casa aberta e sem paredes,
rasa aos espaços do dia.
Na casa sem pé direito,
na mesa sem serventia,
apenas, com seu cachorro,
vem sentar-se a ventania.
E quando não é a mesa
sem toalha e sem terrina,
a paisagem de Castela
num grande palco se amplia:
no palco raso, sem fundo,
só horizonte, do teatro
para a ópera que as nuvens
dão ali em espetáculo:
palco raso e sem fundo,
palco que só fosse chão,
agora só freqüentado
pelo vento e por seu cão.
No mais, não é Castela
mesa nem palco, é o pão:
a mesma crosta queimada,
o mesmo pardo no chão;
aquele mesmo equilíbrio,
de seco e úmido, do pão,
terra de águas contadas
onde é mais contado o grão;
aquela maciez sofrida
que se pode ver no pão
e em tudo o que o homem faz
diretamente com a mão.
E mais: por dentro, Castela
tem aquela dimensão
dos homens de pão escasso,
sua calada condição.
João Cabral de Melo Neto, Paisagens com Figuras
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Labels: Painting, Photography, Poetry
Thursday, October 25, 2007
Friday Mood c/ Tesourinhos não-deprimentes XIX
FOREVER YOUNG IS A FRIDAY MOOD
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Labels: Music
Wednesday, October 24, 2007
Cohen's Our Man
Em tom de conversa com a evocação de I'm Your Man pelo Vinyl. Dois dos melhores momentos do Tributo a Leonard Cohen realizado em 2006. E duas das minhas favoritas.
NICK CAVE, SUZANNE
BETH ORTON, SISTERS OF MERCY
http://www.leonardcohenimyourman.com/
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Labels: Music
Sunday, October 21, 2007
Saturday, October 20, 2007
Wednesday, October 17, 2007
Friday Mood Preview
Frankie Valli /The Four Seasons - Beggin' (Pilooski re-edit)
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Labels: Music
Tuesday, October 16, 2007
Ainda se morre de amor
Eu sabia...
Doctors have long suspected it. A study of 9,000 British civil servants has at last established it is possible to die of a broken heart (new study published in the Archives of Internal Medicine).
Thus with a kiss I die
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Autumn Good Reasons
1. Jardim da Cordoaria
ccbombarda.blogspot.com/
Rua Miguel Bombarda 285 Porto
12-20h segunda-sábado
My choice:
Louie Louie Deluxe
Vertigo Store
3. Pedro Bruschy Digital People na Muuda
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Labels: Photography, Porto
Saturday, October 13, 2007
'd Like to See
18 Out. 19.00 - Culturgest (Grande Auditório)
28 Out. 11.00 - Cinema São Jorge (Sala 1)
Taxi to the Dark Side de Alex Gibney
105´ EUA 2007
A morte de um taxista afegão detido por militares americanos é o ponto de partida deste documentário pertubador sobre aquilo que o governo de Bush designa por "técnicas de interrogação de suspeitos", mas que o realizador e as leis internacionais chamam pelo seu verdadeiro nome: tortura. A autópsia revelou que o taxista tinha sido pendurado ao tecto pelas mãos e que foi depois pontapeado brutalmente até à morte durante cinco dias. O novo filme do realizador de "Enron: The Smartest Guys in the Room" não poupa nada nem ninguém em busca de uma explicação para o facto de as forças americanas terem deixado de respeitar a Convenção de Genebra. Os depoimentos exclusivos de militares americanos e representantes da Administração Bush são fundamentais para dar a conhecer a nova política de segurança dos Estados Unidos, que legalizou e promoveu o uso da tortura no Afeganistão, no Iraque (Abu Ghrabi) e na base de Guantanamo. Só no Iraque há centenas de casos de morte nas prisões reconhecidos tecnicamente pelos médicos do exército americano como homicídios.
19 Out. 22.45 - Culturgest (Pequeno Auditório)
"Autoportrait" dá conta de maneira exemplar das experiências fotográficas de Man Ray, aqui executadas directamente sobre a película cinematográfica. Tendo como pano de fundo o trabalho no seu próprio atelier, Man Ray combinou essas imagens com a manipulação fotográfica dos mais diferentes objectos, de alfinetes a pioneses, não faltando sequer o sal e a pimenta nem o cachimbo de porcelana com uma bolha de vidro, objecto-escultura que empresta o nome ao subtítulo de "Autoportrait".
"La Garoupe", primeiro filme a cores de Man Ray, filmado em Antibes, no Mediterrâneo, assume a forma aparente de um "filme de férias" onde se podem ver, entre outros, Picasso e Paul Eluard.
The five obstructions [VN]de Jorgen Leth e Lars Von Trier
Em 1967, Jørgen Leth, referência fundamental para todos os documentaristas dinamarqueses, realizou "The Perfect Human", filme sobre o futebolista Michael Laudrup, um virtuoso que surpreendia os adversários com jogadas imprevisíveis. A sua maneira de jogar convidava às obstruções e às entradas duras, embora ele conseguisse sempre evitar as quedas e as lesões. Michael Laudrup vai ser o modelo de Jørgen Leth que, aceitando um desafio de Lars von Trier, se dispôs a fazer cinco remakes de "The Perfect Human", com a condição de acatar todos os comentários, críticas e sugestões de von Trier ao remake anterior antes de começar o trabalho no seguinte. A cada nova rasteira de von Trier, Leth respondeu com uma nova obra-prima. E assim, pouco a pouco, um projecto que tinha originalmente as impressões digitais de Leth assumiu as marcas claramente identificáveis dos filmes de Lars von Trier. "The Five Obstructions" é um filme ímpar sobre o processo criativo de dois realizadores notáveis.
Filmado na casa do realizador em Rolle (Suiça), no Studio National des Arts Contemporains em Le Fresnoy e no Centro Pompidou em Paris, "Morceaux de conversation avec Jean-Luc Godard" é uma sucessão de encontros entre JLG e Dominique Païni, André S. Labarthe, Jean Narboni, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet onde se conversa sobre história, política, o cinema, as imagens e o tempo. Muitas das conversas têm como pretexto ou como referência mais imediata a preparação do projecto (entretanto abandonado) "Collage(s) de France, archéologie du cinéma, d'après JLG", pensado em parceria com a escola de Le Fresnoy (de que Alan Fleisher é director), bem como a preparação de "Voyage(s) en utopie", exposição em torno da obra de Godard comissariada por Païni no Centro Pompidou em 2006.
20 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)
O universo literário de Carlos de Oliveira é reconstruido em estúdio com os seus objectos pessoais e os seus manuscritos, e com Luís Miguel Cintra e Fernando Lopes, que o representam. Filmado com o objectivo de documentar a sua obra tal como Carlos de Oliveira documentou a sua Gândara de origem, este filme usa toda a liberdade expressiva que a nova tecnologia digital permite para recriar raccords visuais e sonoros, também presentes no trabalho poético do escritor e poeta.
21 Out. 21.00 - Culturgest (Grande Auditório)
O novo filme de Michael Moore combina o humor com o horror para denunciar as debilidades do sistema de saúde americano, minado por décadas de subfinanciamento público e pela concorrência dos seguros privados. Recorrendo mais uma vez ao seu estilo de investigação muito particular, Moore revela os casos de doentes americanos cujas vidas foram destruídas e compara o sistema americano com o de outros países, como o Canadá, França ou Cuba, acabando por concluir que a melhor maneira de permanecer saudável nos Estados Unidos é mesmo não adoecer.
"Notes on Marie Menken" explora a história quase esquecida de um dos nomes mais importantes do cinema underground americano entre os anos quarenta e sessenta, influenciando realizadores tão conhecidos como Stan Brakhage, Andy Warhol, Jonas Mekas ou Kenneth Anger. Musa inspiradora do romance "Who's Afraid of Virgina Wolf" de Edward Albee, Marie Menken (1909-1970) foi uma figura ímpar da cultura nova-iorquina, tendo realizado dezenas de filmes e participado em várias obras de Andy Warhol. Com música original de John Zorn, o documentário de Martina Kudlácek inclui vários filmes inéditos de Menken, incluindo um "duelo cinematográfico" entre a realizadora e Warhol.
Fundada em 1973, a "& etc" é uma pequena editora que se rege por parâmetros únicos: não tem fins lucrativos, não publica obras comerciais e aposta em autores desconhecidos. Tornou-se ao longo dos anos uma referência no panorama nacional, conhecida tanto pelo lado plástico/estético dos seus livros quadrados, como pela singularidade dos autores que publica, entre os quais João César Monteiro, Adília Lopes ou Alberto Pimenta. Dois responsáveis desta editora, Vitor Silva Tavares e Rui Caeiro, recordam neste filme alguns episódios passados ao longo das três décadas de aventuras literárias.
23 Out. 22.45 - Culturgest (Pequeno Auditório)
"JLG/JLG: Autoportrait de Décembre" é tudo menos um auto-retrato feito para a eternidade, uma biografia pormenorizada ou um testamento artístico. Godard propõe-nos, muito pelo contrário, o registo de um momento específico da sua vida através de um filme feito de planos fixos das paisagens nevadas do lago Léman e do interior da sua casa, assombrada pela silhueta do realizador e por uma banda sonora onde se cruzam duas vozes, a do realizador e a do "actor".
26 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
A partir de textos de Daniel Faria, Marguerite Duras e Serge Daney, "Homens que São como Lugares Mal Situados" toma a forma de um poema visual cujo motivo é a viagem de um homem entre dois continentes.
Não foi o furacão Katrina que destruiu Nova Orleães: foram os diques, quando cederam à força das águas e inundaram grande parte da cidade. Filmado logo após o desastre, o último filme de Spike Lee é um retrato tocante dos efeitos de uma das piores catástrofes que jamais atingiu os Estados Unidos. Com depoimentos de mais de cem pessoas, "When the Levees Broke" dá conta de tragédias pessoais e das estratégias de sobrevivência de uma cidade habituada a lutar contra a adversidade, mas absolutamente incapaz de imaginar que, abandonada pelo seu próprio governo, seria obrigada a enfrentar sozinha toda aquela destruição. Ninguém em Nova Orleães esquecerá que ao visitar a cidade após a catástrofe o presidente nem sequer saiu do avião. Preferiu ver apenas a cidade de cima. Com música de Wynton Marsalis e Terence Blanchard. Vencedor do Human Rights Film Network Award e do Venice Horizons Documentary Award no Festival de Cinema de Veneza em 2006.
28 Out. - Cinema São Jorge (Sala 3)
"Andy Warhol: A Documentary Film" é um empolgante documentário de quatro horas sobre o artista mais famoso, mas também mais incompreendido, da segunda metade do século XX. Com narração de Laurie Anderson e Jeff Koon, este episódio da série "American Masters" da PBS é um mergulho de cabeça na obra colossal de Warhol, tendo sido o primeiro documentário a explorar a fundo o imenso espólio guardado no Andy Warhol Museum de Pittsburgh não só para iluminar a sua carreira artística, mas também a sua biografia pessoal. Um filme de Ric Burns, um dos mais importantes realizadores americanos de documentários para televisão da actualidade.
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Labels: Cinema
Friday, October 12, 2007
Música nojenta do que por ela em mim se fez poesia
«La Cathédrale Engloutie», de Debussy
Creio que nunca perdoarei o que me fez esta música.
Eu nada sabia de poesia, de literatura, e o piano
era, para mim, sem distinção entre a Viúva Alegre e Mozart,
o grande futuro paralelo a tudo o que eu seria
para satisfação dos meus parentes todos. Mesmo a Música,
eles achavam-na demais, imprópria de um rapaz
que era pretendido igual a todos eles:
alto ou baixo funcionário público,
civil ou militar. Eu lia muito, é certo. Lera
o Ponson du Terrail, o Campos Júnior, o Verne e o Salgari,
e o Eça e o Pascoaes. E lera também
nuns caderninhos que me eram permitidos
porque aperfeiçoavam o francês,
e a Livraria Larousse editava para crianças mais novas
do que eu era,
a história da catedral de Ys submersa nas águas.
Um dia, no rádio Pilot da minha Avó, ouvi
uma série de acordes aquáticos, que os pedais faziam pensativos,
mas cujas dissonâncias eram a imagem tremulante
daquelas fendas ténues que na vida,
na minha e na dos outros, ou havia ou faltavam.
Foi como se as águas se me abrissem para ouvir os sinos,
os cânticos, e o eco das abóbadas, e ver as altas torres
sobre que as ondas glaucas se espumavam tranquilas.
Nas naves povoadas de limos e de anémonas, vi que perpassavam
almas penadas como as do Marão e que eu temia
em todos os estalidos e cantos escuros da casa.
Ante um caderno, tentei dizer tudo isso. Mas
só a música que comprei e estudei ao piano mo ensinou
mas sem palavras. Escrevi. Como o vaso da China,
pomposo e com dragões em relevo, que havia na sala,
e que uma criada ao espanejar partiu,
e dele saíram lixo e papéis velhos lá caídos,
as fissuras da vida abriram-se-me para sempre,
ainda que o sentido de muitas eu só entendesse mais tarde.
Submersa catedral inacessível! Como perdoarei
aquele momento em que do rádio vieste,
solene e vaga e grave, de sob as águas que
marinhas me seriam meu destino perdido?
É desta imprecisão que eu tenho ódio:
nunca mais pude ser eu mesmo - esse homem parvo
que, nascido do jovem tiranizado e triste,
viveria tranquilamente arreliado até à morte.
Passei a ser esta soma teimosa do que não existe:
exigência, anseio, dúvida e gosto
de impor aos outros a visão profunda,
não a visão que eles fingem,
mas a visão que recusam:
esse lixo do mundo e papéis velhos
que sai dum jarrão exótico que a criada partiu,
como a catedral se iria em acordes que ficam
na memória das coisas como um livro infantil
de lendas de outras terras que não são a minha.
Os acordes perpassam cristalinos sob um fundo surdo
que docemente ecoa. Música literata e fascinante,
nojenta do que por ela em mim se fez poesia,
esta desgraça impotente de actuar no mundo,
e que só sabe negar-se e constranger-me a ser
o que luta no vácuo de si mesmo e dos outros.
Ó catedral de sons e de água! Ó música
sombria e luminosa! Ó vácua solidão
tranquila! Ó agonia doce e calculada!
Ah como havia em ti, tão só prelúdio,
tamanho alvorecer, por sob ou sobre as águas,
de negros sóis e brancos céus nocturnos?
Eu hei-de perdoar-te? Eu hei-de ouvir-te ainda?
Mais uma vez eu te ouço, ou tu, perdão, me escutas?
Jorge de Sena
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Thursday, October 11, 2007
Tesourinhos não-deprimentes XVII
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Labels: 80s, Brazilian Music, Music, TV
Wednesday, October 10, 2007
da beleza que existe em embrulhar estrelas
em rascunhos de versos.
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Labels: Poetry
Weekend Sounds
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Tuesday, October 9, 2007
Longing for London
http://www.myspace.com/belleruche
My addiction: Minor Swing
Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam de esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos
Mário Cesariny de Vasconcelos, Poemas de Londres
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Lições de Anatomia Estética XXIII
volume aos olhos, digo tudo
da voz que arremesso à boca, ventre
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Labels: Anatomy of Art, Poetry
Ainda os ossos. Das flores.
girassol cravado de esquírolas.
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Labels: Poetry
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Labels: Photography, Poetry
Sunday, October 7, 2007
Last Post for Electromagnetic Use Only
Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão. Esta é dedicada a quem acha isso. Como se as outras todas não fossem.
I sing the body electric
And if the body were not the soul, what is the soul?
Head, neck, hair, ears, drop and tympan of the ears,
Eyes, eye-fringes, iris of the eye, eyebrows, and the waking or
sleeping of the lids,
Mouth, tongue, lips, teeth, roof of the mouth, jaws, and the jaw-hinges,
Nose, nostrils of the nose, and the partition,
Cheeks, temples, forehead, chin, throat, back of the neck, neck-slue,
Strong shoulders, manly beard, scapula, hind-shoulders, and the
ample side-round of the chest,
Upper-arm, armpit, elbow-socket, lower-arm, arm-sinews, arm-bones,
Wrist and wrist-joints, hand, palm, knuckles, thumb, forefinger,
finger-joints, finger-nails,
Broad breast-front, curling hair of the breast, breast-bone, breast-side,
Ribs, belly, backbone, joints of the backbone,
Hips, hip-sockets, hip-strength, inward and outward round,
man-balls, man-root,
Strong set of thighs, well carrying the trunk above,
Leg-fibres, knee, knee-pan, upper-leg, under-leg,
Ankles, instep, foot-ball, toes, toe-joints, the heel;
All attitudes, all the shapeliness, all the belongings of my or your
body or of any one's body, male or female,
The lung-sponges, the stomach-sac, the bowels sweet and clean,
The brain in its folds inside the skull-frame,
Sympathies, heart-valves, palate-valves, sexuality, maternity,
Womanhood, and all that is a woman, and the man that comes from woman,
The womb, the teats, nipples, breast-milk, tears, laughter, weeping,
love-looks, love-perturbations and risings,
The voice, articulation, language, whispering, shouting aloud,
Food, drink, pulse, digestion, sweat, sleep, walking, swimming,
Poise on the hips, leaping, reclining, embracing, arm-curving and tightening,
The continual changes of the flex of the mouth, and around the eyes,
The skin, the sunburnt shade, freckles, hair,
The curious sympathy one feels when feeling with the hand the naked
meat of the body,
The circling rivers the breath, and breathing it in and out,
The beauty of the waist, and thence of the hips, and thence downward
toward the knees,
The thin red jellies within you or within me, the bones and the
marrow in the bones,
The exquisite realization of health;
O I say these are not the parts and poems of the body only, but of the soul,
O I say now these are the soul!
Walt Whitman
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Do Electro ao Magnetismo: As Leis da Atracção
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Saturday, October 6, 2007
A Propósito da Lua
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
até ao fim dos meus dias parece-me que
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas
Adília Lopes
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Electricity: Retro Kitsch Ouverture Preview for Electronic Use Only
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Labels: Music
havia um rapaz de fogo ao peito
com medo de se apagar
vhm
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Labels: Poetry
Mon Coeur Mis à Nu
Picasso, Femme au Buste en Coeur
havia um lugar muito distante onde as crianças não tinham um braço no meio do peito. eram crianças horríveis apenas com um braço de cada lado, vindo de cada ombro. só muito mais tarde, já adultas, o braço do peito lhes crescia, por isso nunca se apaixonavam na adolescência, incapazes de agarrar nos corações umas das outras. o governo, quando soube de tal deficiência nos pobres habitantes daquele lugar, incapaz de suscitar o atempado crescimento desse braço tão fundamental, ordenou que se fizesse um pequeno buraco no peito de cada criança, por onde, ainda que sem lhe tocar, pudessem ver o coração umas das outras.
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Olhos Dobrados VIII
Herbert List Vienna 1944
par apavora-me deixar os olhos
valter hugo mãe
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Labels: Photography, Poetry
Here's looking at you, kid
o que os
olhos sentem o coração
vê. pulsação que abre
paisagens aos olhos, uma
forma diferente de debitar o corpo
valter hugo mãe
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Je Te Donne Mes Miettes
pele
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Labels: Poetry
Soul Body for Electronic Use Only
desenfreada no corpo
agarrada com unhas e dentes às
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Labels: Poetry
Get Closer: Soul Mood for Electronic Use Only
Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão. Mas e a alma, o que é que a faz estremecer?
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Labels: Music
Lições de Anatomia Estética XXII for Electronic Use Only
o seu destino. Poderia dizer-te dos olhos se quisesse ser fácil
este verso, dizer-te do mar e ser evidente, ou das órbitas onde
gravito em cada sorriso teu e construir metáforas. Do fascínio
que as sobrancelhas me impõem nos dedos
dizer-te do sangue no corte profundo dos meus tendões, mas
quero saber o leitor focado antes nos teus, nas mãos com que
disse o primeiro verso. Vou dizer-te: os lábios. Como quem
diz nariz mas não pode, os poemas em que se dizem faces não
permitem outra pele que não a dos lábios
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Labels: Anatomy of Art, Poetry
My Mood for Electronic Use Only
Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão. Be careful with this non-electro groove: if you touch it with the skin inside your ears, you'll burn.
Amp Fiddler feat. Corinne Bailey Rae: If I Don't
Seen by Joana Blu at 4:10 AM 0 glimpses
Labels: Music
Juventude em Marcha
Toda a história aqui.
My pic: Do Corpo Espacejado à Cirurgia Estética: O Teatro Anatómico da Poesia
Seen by Joana Blu at 4:00 AM 0 glimpses
Labels: Poetry
Friday, October 5, 2007
Electro Mood II
Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão.
Trentemøller: Moan
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Labels: Music
Electro Mood: So Glad to See You
Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro.
Hot Chip (ft. The Clangers): So Glad To See You
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Labels: Music
Tuesday, October 2, 2007
Le Sang d'Un Poète
Eu vi uma caneta entrar em hemorragia. Eu vi uma mulher que dormia ao meu lado. Eu vi os seus dois braços. Eu vi que a caneta escrevia por manchas. Eu vi que era um outro alfabeto.
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Labels: Poetry
Rhythm Is Love
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Labels: Music
Lições de Anatomia Estética XXI com Olhos Dobrados VII
Miguel Rio Branco
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Labels: Photography, Poetry
Eu, pecador, me confesso
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Labels: Poetry
À Ma Soeur Sorella. Mas ainda V. Gato
O medo abrevia o pulmão esquerdo. O
pulmão esquerdo é fundamental para
a mão esquerda, para a vida esquerda.
E o que tem a mão esquerda, a vida
esquerda? O pulmão esquerdo guarda
o segredo, ou melhor, a mão esquerda
vive secretamente no pulmão esquerdo.
A mão dentro do corpo é a mão que
muda, a mão que conserta as pancadas
dos cegos. As pancadas dos cegos não
podem ser eliminadas, elas fazem par-
te da vida esquerda. A mão dentro do
corpo é uma flor de violoncelo. A mão
esquerda toca todo o lado direito da
vida esquerda. O medo preocupa-se,
tem fome de pulmão. É preciso manter
a mão esquerda dentro do corpo, res-
pirar pela mão esquerda. O medo tem
uma esquerda fraca. A mão pode muito
contra o medo, a mão esquerda. Então
a vida do pulmão do nome esquerdo
começa e recomeça a escrever-se — a
vida esquerda é a única vida do corpo.
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Labels: Poetry
Nada te faz desistir / A luta é de vida, ou de morte. Quem és tu, V. Gato?
Não se sai do abismo, aprende-se a sua linguagem.
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Labels: Poetry
Vais ver o que custa não ser ouvido no meio de tanto homem vendido. Quem és tu, V. Gato?
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Labels: Poetry
Quem és tu, V. Gato? O que é que te faz correr pelos cantos mais sujos desta terra?
Seen by Joana Blu at 6:49 AM 0 glimpses
Labels: Poetry
Monday, October 1, 2007
This is D Day
Hoje é o Dia Mundial da Música. E da Santa Cecília, padroeira dela. Não comprei nenhum disco. Mas no sábado comprei 3. Foi a conta que o som fez.
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Labels: Music