I. Friday night warm-up with cachaça mineira aka Remember Mangue Seco
II. Atoladinha
IMPERDÍVEL.
Great balls of fire on the dancefloor.
Punctum* do filme: a esplêndida arte da memória de Splendini, digna das mais apuradas mnemotécnicas da Antiguidade. Splendini meets Cícero com os seus 12 anões às piruetas, os 16 cavalos azuis, os 21 aviões e os cinzeiros dançantes. Eis a verdadeira fusão da memoria rerum e da memoria verborum. Santo Agostinho dixit: «Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesoiros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda a espécie. Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresentam‑se imediatamente, outras fazem‑me esperar por mais tempo, até serem extraídas, por assim dizer, de certos receptáculos ainda mais recônditos. Outras irrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se procura uma outra, saltam para o meio como que a dizerem: ‘Não seremos nós?’ Eu então, com a mão do espírito afasto‑as do rosto da memória, até que se desanuvie o que quero e do seu esconderijo a imagem apareça à vista. Outras imagens ocorrem‑me com facilidade e em série ordenada, à medida que as chamo. Então as precedentes cedem o lugar às seguintes e, ao cedê‑lo, escondem‑se para de novo avançarem, quando eu quiser» (Confissões).
* punctum selon Barthes, La Chambre Claire: Não sou eu que vou procurá-lo, é ele que salta da cena, como uma seta, e vem trespassar-me. Existe uma palavra em latim para designar essa ferida, essa picada, essa marca feita por instrumento aguçado. A este segundo elemento que vem perturbar o studium eu chamaria, portanto, punctum; porque punctum é também picada, pequeno orifício, pequena mancha, pequeno corte - e também lance de dados. Neste espaço habitualmente unário, por vezes um «pormenor» chama-me a atenção. Sinto que a sua presença por si só modifica a minha leitura, que é uma nova foto que contemplo, marcada, aos meus olhos, por um valor superior. Este «pormenor» é o punctum (aquilo que me fere). Última coisa sobre o punctum: quer esteja cercado ou não, é um suplemento; é aquilo que eu acrescento à foto e que, no entanto, já lá está. Será que no cinema eu acrescento à imagem? Penso que não; não tenho tempo: diante do écran, não posso fechar os olhos; se o fizesse, ao voltar a abri-los, não encontraria a mesma imagem; estou, pois, sujeito a uma voracidade contínua. Contudo, o cinema tem um poder que, à primeira vista, a Fotografia não possui: o écran (observou Bazin) não é um quadro, mas um esconderijo; a personagem que sai de lá continua a viver; um «campo cego» dobra incessantemente a visão parcial.
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