Sunday, January 21, 2007

Weekend Highlights





I. Friday night warm-up with cachaça mineira aka Remember Mangue Seco


II. Atoladinha

IMPERDÍVEL.

Great balls of fire on the dancefloor.




III. Sunday evening cooldown feat. Woody Allen's Scoop, remembering Santo Agostinho
Punctum* do filme: a esplêndida arte da memória de Splendini, digna das mais apuradas mnemotécnicas da Antiguidade. Splendini meets Cícero com os seus 12 anões às piruetas, os 16 cavalos azuis, os 21 aviões e os cinzeiros dançantes. Eis a verdadeira fusão da memoria rerum e da memoria verborum. Santo Agostinho dixit: «Chego aos campos e vastos palácios da me­mória onde estão tesoiros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda a es­pé­cie. Quando lá entro mando comparecer diante de mim todas as imagens que quero. Umas apresen­tam‑se imedia­ta­mente, outras fazem‑me esperar por mais tempo, até serem ex­traí­das, por assim dizer, de certos recep­táculos ainda mais recônditos. Outras irrompem aos turbilhões e, enquanto se pede e se pro­cura uma outra, saltam para o meio como que a dize­­rem: ‘Não seremos nós?’ Eu então, com a mão do espírito afasto‑as do rosto da memó­­ria, até que se desanuvie o que quero e do seu escon­de­ri­jo a imagem apareça à vista. Outras imagens ocorrem‑me com facilidade e em série or­denada, à me­dida que as chamo. En­tão as precedentes cedem o lugar às seguintes e, ao cedê‑lo, es­condem‑se pa­ra de novo avan­­çarem, quando eu quiser» (Confissões).

* punctum selon Barthes, La Chambre Claire: Não sou eu que vou procurá-lo, é ele que salta da cena, como uma seta, e vem trespassar-me. Existe uma palavra em latim para designar essa ferida, essa picada, essa marca feita por instrumento aguçado. A este segundo elemento que vem perturbar o studium eu chamaria, portanto, punctum; porque punctum é também picada, pequeno orifício, pequena mancha, pequeno corte - e também lance de dados. Neste espaço habitualmente unário, por vezes um «pormenor» chama-me a atenção. Sinto que a sua presença por si só modifica a minha leitura, que é uma nova foto que contemplo, marcada, aos meus olhos, por um valor superior. Este «pormenor» é o punctum (aquilo que me fere). Última coisa sobre o punctum: quer esteja cercado ou não, é um suplemento; é aquilo que eu acrescento à foto e que, no entanto, já lá está. Será que no cinema eu acrescento à imagem? Penso que não; não tenho tempo: diante do écran, não posso fechar os olhos; se o fizesse, ao voltar a abri-los, não encontraria a mesma imagem; estou, pois, sujeito a uma voracidade contínua. Contudo, o cinema tem um poder que, à primeira vista, a Fotografia não pos­sui: o écran (observou Bazin) não é um quadro, mas um esconderijo; a personagem que sai de lá continua a viver; um «campo cego» dobra incessantemente a visão parcial.

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