Thursday, August 2, 2007

Post 202. Through the Eye of the Knee-dle: A Tribute to the Summer of 65

HAPPY DAY SOUNDTRACK


free music


Em dia de festa,

MONTAGEM PARA MANU ELE

Laisse que je plie un genou devant ta brune erreur
Deixa que eu dobre um joelho na tua boca morena
En hospitales donde los huesos salen por la ventana,
Em hospitais onde os ossos saem pelo vento dentro
Neste país onde os homens são só até ao joelho
do poema
E o joelho que bom está tão barato
Volto então ao teu
joelho entreabrindo-te
os olhos
pela mão no joelho que se abre
ponho um beijo
demorado
no topo da tua mão.
O mistério começa do joelho para dentro.
O que faremos quando os cães vierem?
Eles gostam de ossos:
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
E ai, na areia anónima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.
Agora jantaremos a medula
das estrelas com seus ossos
depois da chuva de prata.
Com um punho cravado na medula,
uma lua no sangue, um girassol nos rins.
Os meus ossos estão espetados no deserto
dessas gargantas. Deixo a boca
seguir o desejo nelas.
Un jour d’épaule nue Um dia de ombros nus
Um dia de sombras
Cravadas como ossos
Na areia do deserto.
Seria absurdo falar-se de esqueleto.
Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se agora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Finges dormir para que a dor não deixe rastro no sangue.
The blood of light on thy lips.
Espero contra essas veias, no meio
dos ossos quentes.
Chama-se
com ossos de cinza e cabelos em chama.
No meio está uma fogueira
e a eternidade das mãos.
Com os ossos imensos incendeio as casas
rente à claridade da pele:
rente aos ossos com toda a exactidão
das palavras nuas e deslumbradas.
A chuva mansa lavará tudo:
levará tudo, até chegar
aos duros ossos desnudados
e os ossos, os ossos esquecem.
Não somos os olhos de ninguém:
um resto de sítios atados nos ossos é um coração?
Vou entrando no teu tempo com esta cor de sangue,
acendo as falangetas,
cerco-te com as duas mãos
e as mãos enterram-se na parte mais viva do mundo.
Fica sobre a terra o espaço das mãos.
Mas entre o seguinte: entre ossos e chão.
Terra adentro a boca a encher-se-me de olhos
até que irrompa a manhã.
Gosto de ti como se gosta do sol, e era bom
ficar ao sol todo o dia, mas queima.
Podes ter mãos. Podias até, alguma vez, ter lábios,
dizer alguma coisa em língua, numa língua qualquer.
Abraço-te
devagarinho, com as costas dos ossos,
com pedacinhos de ossos, huesitos,
e o abraço tem a mesma
violência constante dos ossos calcinados.
Ergo nos dedos olhos esmagados
e fica o pó das folhas nas retinas.
Mistura
no sangue e na saliva o azul, a carne.
Sentado como se estivesses
sentado sobre o mar,
escuta o lento bater das ondas nos confins dos ossos.
Je voyais je voyais l’avenir à genoux
Eu vejo eu vejo os joelhos que vêem
e o joelho que bom é só até à ilharga
uso dos meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite
no país onde os homens são só até ao joelho.
Comeremos a medula do almoço,
a acompanhar o vento
que arrasta consigo esta chuva de fósforo e
estes presságios de tranquilos ossos.
Entalaremos na garganta
a árvore que cresce nos pulmões.
Quero é esse esqueleto mais de dentro:
o aço do osso, que resiste
quando o osso perde seu cimento.
E é outra ossatura mais forte
que a armação comum, de todos;
debaixo da própria carne,
no fundo centro de seus ossos.
São-me necessárias imagens radiografias de olhos
Rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser estes dentes rasgados no lugar dos ossos
Toca-me o rasto com o teu nome, ou pousa-me sobre as mãos
e espalha os dedos em volta, no colo aquecido
do vento que instala a dobra azul dos cotovelos.
Minhas pequenas dívidas multiplicam os dentes,
furam pelos dedos as vísceras
intensas do vento, estremecem
nos cotovelos completos.
Este mar
não vai parar na minha pele, este vento
começa a negar-me os olhos.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.
Dobro os cotovelos na gaveta,
onde se guarda o tempo ocupado
das palavras, em seu osso.
Mas os olhos: nossos um bicho guarda,
intactos em seu tempo, intermináveis.
Olhas-te no espelho vês-te
um nome um corpo um gesto
comes
a árvore com a saliva das unhas.
Debruça-te para dentro de mim e deixa que o segredo do tempo fulmine os ossos.
Eis como
um osso curva
o teu riso no meio das ruas:
como se tivesse olhos na nuca.
Vejo a toda a volta o teu silêncio.
E fecho os ossos para não te ver.
Se o meu corpo deslizasse em olhos de sangue
saberia estalar os ossos das tuas mãos
mudas, onde os dedos despontam
como a rótula no cruzar das pernas.
Porém bastante sangue nunca existe guardado em veias
- ou em olhos -
e por isso o dia esvai-se quando, nos céus, se enchem de fogo os olhos vazios da noite.
A luz da tarde mostra-me os destrossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Para o homem capaz de roer
os ossos do ofício
o tempo de sedução terminou:
terá de trocar o tacto dos olhos pelo tacto das velas.
O mar é este azul-sangue
Dos olhos dilatados, olhos de navio
atentos à coagulação das imagens.
No silêncio das marés
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as perdas)
ouço a água nos teus olhos.
A maré sobe
a boca do mar
sobre os pulsos
já a sinto. É a noite
toda nos meus passos,
peixes que se miram no vidro da retina
fundamentais que nem olhos.
E mesmo sob a pálpebra da treva
Talvez ouças como os meus olhos nos teus
se deitam.
Todas estas noites com o carvão em redor dos olhos,
o gesso do sangue nas pálpebras dos dentes
nada se move dentro ou fora de mim,
excepto o vento no interior dos ossos.
Não abras
os teus olhos contra os ossos da minha cara.
Seria íntimo como um joelho sem pálpebra aberto na nossa mão.


Montagem feita com versos roubados a: Abelardo Linares, Affonso Romano de Sant’Anna, Al Berto, Albano Martins, Ana Marques Gastão, António Franco Alexan­dre, Archibald Macleish, Camilo Pessanha, Carlos Drummond de Andrade, Casimiro de Bri­to, Constantine Cavafy, Fernando Assis Pacheco, Ferreira Gullar, Gastão Cruz, Helder Noura Pereira, Her­ber­to Helder, Ivan Junqueira, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Manuel Magalhães, José Gomes Ferreira, Louis Aragon, Luís Miguel Nava, Maria Teresa Horta, Mário Cesa­riny de Vasconcelos, Murilo Mendes, Pablo Neruda, Pierre Jean Jouve, Sophia de Mello Breyner Andresen, Vasko Popa e Vinicius de Moraes.

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