Monday, September 14, 2009

contra a poesia dita profunda

Poesia, te escrevia:
flor! conhecendo
que és fezes. (Fezes
como qualquer,

gerando cogumelos
raros, frágeis, cogumelos)
no úmido
calor de nossa boca

Delicado, escrevia:
flor! (Cogumelos
serão flor? Espécie
estranha, espécie

extinta de flor,
flor não de todo flor,
mas flor, bolha
aberta no maduro).

Delicado, evitava
o estrume do poema,
seu caule, seu ovário
suas intestinações.

Esperava as puras,
transparentes florações,
nascidas do ar, no ar,
como as brisas.

João Cabral de Melo Neto

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