Monday, June 7, 2010

...num dia de pólen e verão...

Fazer o quê de todo este mel,

Do crescendo das tardes em ouro, pólen e Verão,

Se a vida é, afinal, sempre e só

Dos outros, afinal, sempre e só

Transformada em vala comum,

Onde tentar o bem nosso

Pelo bem dos outros

Já não é sequer o mal menor,

Cansados de mais, brutos de mais,

Nós mesmos de mais,

Sempre morais numa impossível

E exaltada falta de paciência,

Numa pressurosa falta de ternura,

Nós sempre tão corredios,

Sardónicos até nos estertores,

Impérvios a essa música que nos tece

Perdidos em pleno espaço?

Há ainda um risco para nos salvar

De toda esta segurança,

Do geométrico, bancário, ergonómico

Acomodar-se da alma,

Do espírito flácido e famélico,

Algo que nos possa restituir

O gosto dos dias,

Esse que teremos na boca

Em hora extrema, ainda o gosto dos dias?


Nuno Morais

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