Se não é um dos muitos fuzilados das Espanhas,
Renascido de uma vala comum,
Será um Ulisses que não achou regresso,
Ou não quis achá-lo, preferindo
O cálice capitoso da viagem.
Fala muitos demóticos, mas na torrente
Apenas se percebe um fragmento
Decerto legado pelos deuses – «tontería».
Ei-lo agora à porta
De supermercados incompreensíveis:
Sorri e bebe à saúde de toda a gente,
Uma cortesia que o torna suspeito, indesejável.
De Inverno, raramente dorme
Para prosseguir a sua viagem;
Não quer sonhos, que acabam sempre
Nos baixios de qualquer manhã,
Nem se quer perder do mar
Que o embala durante todo o Verão
Numa ressaca de constelações.
Nuno Morais, Últimos Poemas
No comments:
Post a Comment