Quem tem a sorte de crescer numa casa onde se ouve Vinicius e Bethânia como quem bebe um copo de ar só pode começar a apreciar as coisas boas da vida desde muito cedo. Primeiro era o Álibi, com «O meu amor» da Ópera do Malandro, «Explode coração» e os seus inesquecíveis versos — «Eu quero mais é me abrir / E que essa vida entre assim / Como se fosse o sol / Desvirginando a madrugada / Quero sentir a dor dessa manhã» —, «Sonho meu» e o triste «Cálice», que demoraria algum tempo a compreender. Mas logo depois veio Nossos Momentos, gravação ao vivo com o Cântico Negro do Régio nos lábios da Bethânia, a abrir com este «O que é, o que é». E nunca mais a vida foi igual:
Viver
E não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor
E será
Mas isso não me impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
Quando se carregar no play, nem sequer se deve ler este post. Pode perturbar o arrepio.
P.S. - Como na música brasileira tudo fica em família, a senhora mais redondinha é a Nana Caymmi, filha do compositor baiano Dorival Caymmi - a quem devemos, entre tantas outras coisas, a inesquecida «Modinha para Gabriela» -, e a senhora mais rectangularzinha é a Miúcha, irmã do Chico Buarque e ex-mulher do João Gilberto, que graças à ordem natural das coisas vem a ser mãe da Bebel Gilberto.
3 comments:
Guarda bem o LP Alibi que foi comprado em S.Paulo em 1978 no shopping Ibirapuera.
«a gente atura e até se mostra feliz
quando se tem o álibi
de ter nascido ávido»
está muito bem guardado, pelo menos na memória :)
kisses
Imagin�rio de crian�a costuma ser o "atirei o pau ao gato" .... mas realmente "Viver.... e n�o ter a vergonha de ser feliz..." � o nosso imagin�rio. Falta o c�ntico negro, e mina, e andrew loyd webber ... todas as cassetes com barulho de cassete. Obrigada Pais.
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