Tuesday, June 30, 2009

A MANHÃ NO CAFÉ DESERTO

Café.
Ruídos abafados.
É como se a vida fosse calafetada.
Quase silencio.
Os ruídos da rua chegam por este corredor fora
Como enfraquecidos da viagem.
Aqui ao fundo a sombra é maior,
Hoje que chove lá fora,
Miudamente.
Tepidez.
Folheio livros, distraído,
Por aqui ser inútil fingir qualquer acção.
Estar aqui sozinho é viver intensamente,
Estar aqui silencioso e recolhido
Dá não sei que ciência de todos os segredos do fluir da vida.
O café: acumulador de todos os destinos aqui suspensos um momento.
Nesta atmosfera densa permanece a síntese de todos os caminhos
Aqui onde o silencio existe a esta hora da manhã,
Existe apesar dos ruídos,
Segunda atmosfera suspensa e doce,
Alheia ao que não seja a sua compenetrada reflexão
Sobre o surdo ressoar das vidas que por aqui se fixaram um momento.
Planalto para onde todos trouxeram a descansar a agitação das suas vidas
Que puseram ao lado a acalmar sobre os longos divãs de couro,
E onde vieram beber na espessa bebida negra a paz momentânea ou mais excitação.

Paz.
Lusco-fusco.
Alheamento.
Aqui até a nossa vida nos é um espectáculo
Exterior como um filme ao fundo da sala em trevas.
Café,
Meu amigo!


Adolfo Casais Monteiro

1 comment:

Anonymous said...

Melancolia