Wednesday, June 16, 2010

contra a manhã burra

ÚLTIMO CIGARRO

o vinho é branco a tarde cai o dia avança no vento
na boca acorda o último cigarro o poema segue o risco
a claríssima insuficiência

é este o incêndio da tarde o fim do almoço
a violência dos pássaros as crianças dormem a sesta
reclusas na sombra azul dos quartos

mãos sem sentido
arroz na folha de videira muro caiado de branco
e roseiras

gastronomias inexplicáveis contêm a vida e os pátios
aquela noite grega que não soubemos redigir
vespas bebendo da boca das torneiras

escrevo o poema que não lerás nunca
sobre a toalha de plástico da mesa suja
de azeite

a mão esquecida na vírgula acesa do cigarro
a minha solidão vincada a cotovelos no padrão da toalha
as crianças dormindo na

nitidez esquecida da telefonia

Miguel-Manso
Contra a manhã burra

Sunday, June 13, 2010

The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn, like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes "Awww!"

Jack Kerouac
On the Road

On ne se réveille jamais: les désirs entretiennent les rêves. La mort est un rêve, entre autres rêves qui perpétuent la vie, celui de séjourner dans le mythique. C'est du côté du réveil que se situe la mort. La vie est quelque chose de tout à fait impossible qui peut rêver de réveil absolu.

Jacques Lacan

«Improvisation: désir de mort, rêve et réveil»

Friday, June 11, 2010

nuit et brouillard


Qui de nous veille de cet étrange observatoire, pour nous avertir de la venue des nouveaux bourreaux? Ont-ils vraiment un autre visage que le nôtre? Quelque part parmi nous il reste des kapos chanceux, des chefs récupérés, des dénonciateurs inconnus…
Il y a tous ceux qui n’y croyaient pas, ou seulement de temps en temps.
Il y a nous qui regardons sincèrement ces ruines comme si le vieux monstre concentrationnaire était mort sous les décombres, qui feignons de reprendre espoir devant cette image qui s'éloigne, comme si on guérissait de la peste concentrationnaire, nous qui feignons de croire que tout cela est d’un seul temps et d’un seul pays,
et qui ne pensons pas à regarder autour de nous,
et qui n’entendons pas qu’on crie sans fin.

c'est quand on rêve sans le savoir


... Ecoute-moi. Comme toi, je connais l’oubli.
Comme toi, je suis douée de mémoire. Je connais l’oubli.
Comme toi, moi aussi, j’ai essayé de lutter de toutes mes forces contre l’oubli.
Comme toi, j’ai oublié.
Comme toi, j’ai désiré avoir une inconsolable mémoire, une mémoire d’ombres et de pierre.
J'ai lutté pour mon compte, de toutes mes forces, chaque jour, contre l'horreur de ne plus comprendre du tout le pourquoi de ce souvenir.
Comme toi, j'ai oublié.
Pourquoi nier l'évidente nécessité de la mémoire?

...grande combate entre covers...

















Thursday, June 10, 2010

no dia dele

Camões Dirige-se aos Seus Contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as matáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vosso netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos,porem flores no túmulo.

Jorge de Sena
Metamorfoses

Wednesday, June 9, 2010

Esercizio di Lingua

8 1/2 Festa do Cinema Italiano
Porto, Fundação de Serralves
18-20 de Junho



Sábado 19 de Junho | Fundação SERRALVES

18h00 ESERCIZIO DI LINGUA | DAVID BARROS | Portugal 2009 | 19' | Leg. PT

com a presença do realizador e da produtora Joana Rodrigues

Monday, June 7, 2010

...num dia de pólen e verão...

Fazer o quê de todo este mel,

Do crescendo das tardes em ouro, pólen e Verão,

Se a vida é, afinal, sempre e só

Dos outros, afinal, sempre e só

Transformada em vala comum,

Onde tentar o bem nosso

Pelo bem dos outros

Já não é sequer o mal menor,

Cansados de mais, brutos de mais,

Nós mesmos de mais,

Sempre morais numa impossível

E exaltada falta de paciência,

Numa pressurosa falta de ternura,

Nós sempre tão corredios,

Sardónicos até nos estertores,

Impérvios a essa música que nos tece

Perdidos em pleno espaço?

Há ainda um risco para nos salvar

De toda esta segurança,

Do geométrico, bancário, ergonómico

Acomodar-se da alma,

Do espírito flácido e famélico,

Algo que nos possa restituir

O gosto dos dias,

Esse que teremos na boca

Em hora extrema, ainda o gosto dos dias?


Nuno Morais

Últimos Poemas

Sunday, June 6, 2010