Wednesday, October 31, 2007

Mañana

Goya, Saturno devorando o seu filho
Museu do Prado

Leaving on the next plane

Steve McCurry Madrid 1995



Madrid

Diversa Madrid, criada
Com fundo calor humano,
Teu encanto não se mede
Por monumento ou paisagem.

Não sendo antiga nem atual,
Donde teu encanto, Madrid?
Vem direto do teu povo
Denso, nervoso, sensível,

Que sabe amar, dialogar,
Dividir gozo e trabalho,
Racionalizar sua pena
E despistar o cronômetro.

Esse encanto vem ainda
De tuas mulheres intensas,
Nascidas para lucir;
Dos teus espaços abertos,

Cantantes, comunicantes;
Dos teus ares circulares
Filtrados nos altos filtros
Da serra de Guadarrama.

*

Diversa Madrid dos gritos
Ocultos ou manifestos:
Sopra aqui um vento afiado
De conspiração permanente.

Não és cidade montada
Para o prazer do turista,
Nem medieval ou futura:
Madrid nervosa e desperta,

És o posto cotidiano
Com dimensão definida,
Onde se aprende bem cedo
O rude ofício da vida.

Murilo Mendes, Tempo Espanhol

Deveria ir de carro?

Será um fenómeno com explicação cultural? O Simca 1000 dos Inhumanos, o Cadillac dos Trogloditas... Algo se passa no reino de Leão e Castela.

Tuesday, October 30, 2007

Viajar, Perder Cidades

Elliott Erwitt-Madrid 1995
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia


Imagens em Castela

Se alguém procura a imagem
da paisagem de Castela
procure no dicionário:
meseta provém de mesa.

É uma paisagem em largura,
de qualquer lado infinita.
É uma mesa sem nada
e horizontes de marinha

posta na sala deserta
de uma ampla casa vazia,
casa aberta e sem paredes,
rasa aos espaços do dia.

Na casa sem pé direito,
na mesa sem serventia,
apenas, com seu cachorro,
vem sentar-se a ventania.

E quando não é a mesa
sem toalha e sem terrina,
a paisagem de Castela
num grande palco se amplia:

no palco raso, sem fundo,
só horizonte, do teatro
para a ópera que as nuvens
dão ali em espetáculo:

palco raso e sem fundo,
palco que só fosse chão,
agora só freqüentado
pelo vento e por seu cão.

No mais, não é Castela
mesa nem palco, é o pão:
a mesma crosta queimada,
o mesmo pardo no chão;

aquele mesmo equilíbrio,
de seco e úmido, do pão,
terra de águas contadas
onde é mais contado o grão;

aquela maciez sofrida
que se pode ver no pão
e em tudo o que o homem faz
diretamente com a mão.

E mais: por dentro, Castela
tem aquela dimensão
dos homens de pão escasso,
sua calada condição.


João Cabral de Melo Neto, Paisagens com Figuras

Vivir así en miradas transparentes

Thursday, October 25, 2007

Friday Mood c/ Tesourinhos não-deprimentes XIX



FOREVER YOUNG IS A FRIDAY MOOD

Picasso 126

Seriam mesmo, hoje, 126 anos. A 25.
Os meus preferidos:


Wednesday, October 24, 2007

Cohen's Our Man

Em tom de conversa com a evocação de I'm Your Man pelo Vinyl. Dois dos melhores momentos do Tributo a Leonard Cohen realizado em 2006. E duas das minhas favoritas.

NICK CAVE, SUZANNE


BETH ORTON, SISTERS OF MERCY


http://www.leonardcohenimyourman.com/

Sunday, October 21, 2007

Saturday, October 20, 2007

Wednesday, October 17, 2007

Friday Mood Preview

Frankie Valli /The Four Seasons - Beggin' (Pilooski re-edit)

Tuesday, October 16, 2007

Ainda se morre de amor

Eu sabia...

Doctors have long suspected it. A study of 9,000 British civil servants has at last established it is possible to die of a broken heart (new study published in the Archives of Internal Medicine).

Thus with a kiss I die

Autumn Good Reasons

1. Jardim da Cordoaria


2. Centro Comercial Bombarda

ccbombarda.blogspot.com/
Rua Miguel Bombarda 285 Porto
12-20h segunda-sábado


My choice:

Louie Louie Deluxe
Vertigo Store



3. Pedro Bruschy Digital People na Muuda


4. Chá e Scones na Rota do Chá

5. Marco Mendes na Plumba

Saturday, October 13, 2007

'd Like to See


18 Out. 19.00 - Culturgest (Grande Auditório)
28 Out. 11.00 - Cinema São Jorge (Sala 1)
Taxi to the Dark Side de Alex Gibney
105´ EUA 2007
A morte de um taxista afegão detido por militares americanos é o ponto de partida deste documentário pertubador sobre aquilo que o governo de Bush designa por "técnicas de interrogação de suspeitos", mas que o realizador e as leis internacionais chamam pelo seu verdadeiro nome: tortura. A autópsia revelou que o taxista tinha sido pendurado ao tecto pelas mãos e que foi depois pontapeado brutalmente até à morte durante cinco dias. O novo filme do realizador de "Enron: The Smartest Guys in the Room" não poupa nada nem ninguém em busca de uma explicação para o facto de as forças americanas terem deixado de respeitar a Convenção de Genebra. Os depoimentos exclusivos de militares americanos e representantes da Administração Bush são fundamentais para dar a conhecer a nova política de segurança dos Estados Unidos, que legalizou e promoveu o uso da tortura no Afeganistão, no Iraque (Abu Ghrabi) e na base de Guantanamo. Só no Iraque há centenas de casos de morte nas prisões reconhecidos tecnicamente pelos médicos do exército americano como homicídios.


19 Out. 22.45 - Culturgest (Pequeno Auditório)
Autoportrait ou Ce qui Nous Manque à Tous [DF]de Man Ray
11´França 1930
"Autoportrait" dá conta de maneira exemplar das experiências fotográficas de Man Ray, aqui executadas directamente sobre a película cinematográfica. Tendo como pano de fundo o trabalho no seu próprio atelier, Man Ray combinou essas imagens com a manipulação fotográfica dos mais diferentes objectos, de alfinetes a pioneses, não faltando sequer o sal e a pimenta nem o cachimbo de porcelana com uma bolha de vidro, objecto-escultura que empresta o nome ao subtítulo de "Autoportrait".

La Garoupe [DF]de Man Ray
9´ França 1937
"La Garoupe", primeiro filme a cores de Man Ray, filmado em Antibes, no Mediterrâneo, assume a forma aparente de um "filme de férias" onde se podem ver, entre outros, Picasso e Paul Eluard.

The five obstructions [VN]de Jorgen Leth e Lars Von Trier
90´Dinamarca 2003
Em 1967, Jørgen Leth, referência fundamental para todos os documentaristas dinamarqueses, realizou "The Perfect Human", filme sobre o futebolista Michael Laudrup, um virtuoso que surpreendia os adversários com jogadas imprevisíveis. A sua maneira de jogar convidava às obstruções e às entradas duras, embora ele conseguisse sempre evitar as quedas e as lesões. Michael Laudrup vai ser o modelo de Jørgen Leth que, aceitando um desafio de Lars von Trier, se dispôs a fazer cinco remakes de "The Perfect Human", com a condição de acatar todos os comentários, críticas e sugestões de von Trier ao remake anterior antes de começar o trabalho no seguinte. A cada nova rasteira de von Trier, Leth respondeu com uma nova obra-prima. E assim, pouco a pouco, um projecto que tinha originalmente as impressões digitais de Leth assumiu as marcas claramente identificáveis dos filmes de Lars von Trier. "The Five Obstructions" é um filme ímpar sobre o processo criativo de dois realizadores notáveis.

20 Out. 11.00 - Culturgest (Pequeno Auditório)
Morceaux de conversation avec Jean-Luc Godard [SE]de Alan Fleischer
125´ França 2007
Filmado na casa do realizador em Rolle (Suiça), no Studio National des Arts Contemporains em Le Fresnoy e no Centro Pompidou em Paris, "Morceaux de conversation avec Jean-Luc Godard" é uma sucessão de encontros entre JLG e Dominique Païni, André S. Labarthe, Jean Narboni, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet onde se conversa sobre história, política, o cinema, as imagens e o tempo. Muitas das conversas têm como pretexto ou como referência mais imediata a preparação do projecto (entretanto abandonado) "Collage(s) de France, archéologie du cinéma, d'après JLG", pensado em parceria com a escola de Le Fresnoy (de que Alan Fleisher é director), bem como a preparação de "Voyage(s) en utopie", exposição em torno da obra de Godard comissariada por Païni no Centro Pompidou em 2006.

20 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)
Sobre o Lado Esquerdo [SE]de Margarida Gil
50´ Portugal 2007
O universo literário de Carlos de Oliveira é reconstruido em estúdio com os seus objectos pessoais e os seus manuscritos, e com Luís Miguel Cintra e Fernando Lopes, que o representam. Filmado com o objectivo de documentar a sua obra tal como Carlos de Oliveira documentou a sua Gândara de origem, este filme usa toda a liberdade expressiva que a nova tecnologia digital permite para recriar raccords visuais e sonoros, também presentes no trabalho poético do escritor e poeta.

21 Out. 21.00 - Culturgest (Grande Auditório)
Sicko [SE]de Michael Moore
74´EUA 2007
O novo filme de Michael Moore combina o humor com o horror para denunciar as debilidades do sistema de saúde americano, minado por décadas de subfinanciamento público e pela concorrência dos seguros privados. Recorrendo mais uma vez ao seu estilo de investigação muito particular, Moore revela os casos de doentes americanos cujas vidas foram destruídas e compara o sistema americano com o de outros países, como o Canadá, França ou Cuba, acabando por concluir que a melhor maneira de permanecer saudável nos Estados Unidos é mesmo não adoecer.

21 Out. 14.15 - Culturgest (Pequeno Auditório)
Notes on Marie Menken [RE]de Martina Kudlacek
67´ Áustria/EUA 2006
"Notes on Marie Menken" explora a história quase esquecida de um dos nomes mais importantes do cinema underground americano entre os anos quarenta e sessenta, influenciando realizadores tão conhecidos como Stan Brakhage, Andy Warhol, Jonas Mekas ou Kenneth Anger. Musa inspiradora do romance "Who's Afraid of Virgina Wolf" de Edward Albee, Marie Menken (1909-1970) foi uma figura ímpar da cultura nova-iorquina, tendo realizado dezenas de filmes e participado em várias obras de Andy Warhol. Com música original de John Zorn, o documentário de Martina Kudlácek inclui vários filmes inéditos de Menken, incluindo um "duelo cinematográfico" entre a realizadora e Warhol.

19 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
21 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)
& etc [P]de Cláudia Clemente
25´Portugal 2007
Fundada em 1973, a "& etc" é uma pequena editora que se rege por parâmetros únicos: não tem fins lucrativos, não publica obras comerciais e aposta em autores desconhecidos. Tornou-se ao longo dos anos uma referência no panorama nacional, conhecida tanto pelo lado plástico/estético dos seus livros quadrados, como pela singularidade dos autores que publica, entre os quais João César Monteiro, Adília Lopes ou Alberto Pimenta. Dois responsáveis desta editora, Vitor Silva Tavares e Rui Caeiro, recordam neste filme alguns episódios passados ao longo das três décadas de aventuras literárias.

23 Out. 22.45 - Culturgest (Pequeno Auditório)
JLG/JLG: Autoportrait de Décembre [DF]de Jean-Luc Godard
55´ França/Suiça 1994
"JLG/JLG: Autoportrait de Décembre" é tudo menos um auto-retrato feito para a eternidade, uma biografia pormenorizada ou um testamento artístico. Godard propõe-nos, muito pelo contrário, o registo de um momento específico da sua vida através de um filme feito de planos fixos das paisagens nevadas do lago Léman e do interior da sua casa, assombrada pela silhueta do realizador e por uma banda sonora onde se cruzam duas vozes, a do realizador e a do "actor".

26 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
24 Out. 20.30 - Cinema Londres (Sala 2)
Homens que São como Lugares Mal Situados [P]de João Trabulo
21´Portugal 2007
A partir de textos de Daniel Faria, Marguerite Duras e Serge Daney, "Homens que São como Lugares Mal Situados" toma a forma de um poema visual cujo motivo é a viagem de um homem entre dois continentes.

27 Out. 21.00 - Culturgest (Grande Auditório)
When the Levees Broke: A Requiem in Four Acts [SE]de Spike Lee
240´ EUA 2007
Não foi o furacão Katrina que destruiu Nova Orleães: foram os diques, quando cederam à força das águas e inundaram grande parte da cidade. Filmado logo após o desastre, o último filme de Spike Lee é um retrato tocante dos efeitos de uma das piores catástrofes que jamais atingiu os Estados Unidos. Com depoimentos de mais de cem pessoas, "When the Levees Broke" dá conta de tragédias pessoais e das estratégias de sobrevivência de uma cidade habituada a lutar contra a adversidade, mas absolutamente incapaz de imaginar que, abandonada pelo seu próprio governo, seria obrigada a enfrentar sozinha toda aquela destruição. Ninguém em Nova Orleães esquecerá que ao visitar a cidade após a catástrofe o presidente nem sequer saiu do avião. Preferiu ver apenas a cidade de cima. Com música de Wynton Marsalis e Terence Blanchard. Vencedor do Human Rights Film Network Award e do Venice Horizons Documentary Award no Festival de Cinema de Veneza em 2006.

28 Out. - Cinema São Jorge (Sala 3)
1ª parte: 11.00 2ª parte: 13.45
Andy Warhol: a Documentary Film de Ric Burns
240' EUA 2006
"Andy Warhol: A Documentary Film" é um empolgante documentário de quatro horas sobre o artista mais famoso, mas também mais incompreendido, da segunda metade do século XX. Com narração de Laurie Anderson e Jeff Koon, este episódio da série "American Masters" da PBS é um mergulho de cabeça na obra colossal de Warhol, tendo sido o primeiro documentário a explorar a fundo o imenso espólio guardado no Andy Warhol Museum de Pittsburgh não só para iluminar a sua carreira artística, mas também a sua biografia pessoal. Um filme de Ric Burns, um dos mais importantes realizadores americanos de documentários para televisão da actualidade.

Friday, October 12, 2007

Música nojenta do que por ela em mim se fez poesia


«La Cathédrale Engloutie», de Debussy

Creio que nunca perdoarei o que me fez esta música.
Eu nada sabia de poesia, de literatura, e o piano
era, para mim, sem distinção entre a Viúva Alegre e Mozart,
o grande futuro paralelo a tudo o que eu seria
para satisfação dos meus parentes todos. Mesmo a Música,
eles achavam-na demais, imprópria de um rapaz
que era pretendido igual a todos eles:
alto ou baixo funcionário público,
civil ou militar. Eu lia muito, é certo. Lera
o Ponson du Terrail, o Campos Júnior, o Verne e o Salgari,
e o Eça e o Pascoaes. E lera também
nuns caderninhos que me eram permitidos
porque aperfeiçoavam o francês,
e a Livraria Larousse editava para crianças mais novas
do que eu era,
a história da catedral de Ys submersa nas águas.

Um dia, no rádio Pilot da minha Avó, ouvi
uma série de acordes aquáticos, que os pedais faziam pensativos,
mas cujas dissonâncias eram a imagem tremulante
daquelas fendas ténues que na vida,
na minha e na dos outros, ou havia ou faltavam.

Foi como se as águas se me abrissem para ouvir os sinos,
os cânticos, e o eco das abóbadas, e ver as altas torres
sobre que as ondas glaucas se espumavam tranquilas.
Nas naves povoadas de limos e de anémonas, vi que perpassavam
almas penadas como as do Marão e que eu temia
em todos os estalidos e cantos escuros da casa.

Ante um caderno, tentei dizer tudo isso. Mas
só a música que comprei e estudei ao piano mo ensinou
mas sem palavras. Escrevi. Como o vaso da China,
pomposo e com dragões em relevo, que havia na sala,
e que uma criada ao espanejar partiu,
e dele saíram lixo e papéis velhos lá caídos,
as fissuras da vida abriram-se-me para sempre,
ainda que o sentido de muitas eu só entendesse mais tarde.

Submersa catedral inacessível! Como perdoarei
aquele momento em que do rádio vieste,
solene e vaga e grave, de sob as águas que
marinhas me seriam meu destino perdido?
É desta imprecisão que eu tenho ódio:
nunca mais pude ser eu mesmo - esse homem parvo
que, nascido do jovem tiranizado e triste,
viveria tranquilamente arreliado até à morte.
Passei a ser esta soma teimosa do que não existe:
exigência, anseio, dúvida e gosto
de impor aos outros a visão profunda,
não a visão que eles fingem,
mas a visão que recusam:
esse lixo do mundo e papéis velhos
que sai dum jarrão exótico que a criada partiu,
como a catedral se iria em acordes que ficam
na memória das coisas como um livro infantil
de lendas de outras terras que não são a minha.

Os acordes perpassam cristalinos sob um fundo surdo
que docemente ecoa. Música literata e fascinante,
nojenta do que por ela em mim se fez poesia,
esta desgraça impotente de actuar no mundo,
e que só sabe negar-se e constranger-me a ser
o que luta no vácuo de si mesmo e dos outros.

Ó catedral de sons e de água! Ó música
sombria e luminosa! Ó vácua solidão
tranquila! Ó agonia doce e calculada!

Ah como havia em ti, tão só prelúdio,
tamanho alvorecer, por sob ou sobre as águas,
de negros sóis e brancos céus nocturnos?
Eu hei-de perdoar-te? Eu hei-de ouvir-te ainda?
Mais uma vez eu te ouço, ou tu, perdão, me escutas?


Jorge de Sena

Electro Addiction


Fischerspooner: Emerge
Best Mix: Daft Punk's

Let the weekend emerge

Thursday, October 11, 2007

Tesourinhos não-deprimentes XVII

Baby Consuelo, a melhor versão. Toma esta canção como um beijo.



Evandro Teixeira

Wednesday, October 10, 2007

E talvez nunca ninguém se aperceba
da beleza que existe em embrulhar estrelas
em rascunhos de versos.

Jorge Melícias

Weekend Sounds

STEP 1




SEX // 12 OUTUBRO
7 ANOS DE RUI VARGAS NO 31




STEP 2

Sábado 13 Outubro 2007
23:00
Clubbing

O Clubbing está de regresso à Casa da Música, trazendo à Sala 2 dois grandes nomes da música experimental internacional. A mítica banda norte-americana Tuxedomoon, fundada em São Francisco por Blaine Reininger (violino e guitarra) e Steven Brown (saxofones e teclados), em 1977, mantém-se como um ícone do avant garde. Com Peter Principle (baixo) e Luc Van Lieshout (trompete), já na Europa, foram pioneiros na fusão do rock e do jazz com a electrónica. Ao longo de 30 anos, criaram êxitos incontornáveis como No Tears, In a manner of speaking e Desire, com sonoridades que passam pelo pós-punk, new wave e pelas bases electrónicas primitivas com influências étnicas, pop ou clássicas. Os Tuxedomoon apresentam esta noite o novo álbum Vapour Trails. Entre a guitarra e o computador, Fennesz cria um universo sonoro único, baseado na electrónica mas com referências que vão da canção pop à música concreta ou sinfónica. Transcendendo as limitações ou a linguagem idiomática do instrumento, o músico austríaco explora o discurso improvisado sobre material gerado digitalmente. Christian Fennesz tem mantido, a partir de Viena, colaborações com vários músicos de vanguarda, com destaque para Ryuichi Sakamoto - este ano foi editado o álbum Cendre, em dueto, pela Touch - ou o trio Fenn O'Berg. A animação dos Bares 1 e 2 é garantida por quatro novos projectos em estreia na Casa da Música. Natural da África do Sul, Portable (Alan Abrahams) vem reinventando o tecno de um modo profundamente original. Apresenta ao vivo o seu último álbum de originais, editado em Setembro pela Scape, onde aborda o house e se aplica nos motivos rítmicos africanos, combinando-os com o detalhe da electrónica alemã. M. Sá e Fadigaz, divulgadores de música electrónica, representam com a dupla Tra$h Converters a faceta lúdica da editora Variz, com insólitos dj sets electro-noise-techno-pop-acid-house. TAM é um alter-ego de João Santos, produtor/dj de música electrónica. Os sons dos instrumentos analógicos são a base para melodias abstractas trabalhadas digitalmente, com uma sonoridade 'ambient' ou experimental. A intervenção vídeo apresentada por Migso (Miguel Soares) abrange uma viagem narrativa mergulhada em melodias celestiais e nas linhas sensuais do synth, caindo em padrões hipnóticos profundos.

Tuesday, October 9, 2007

Longing for London

http://www.myspace.com/belleruche

My addiction: Minor Swing

Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam de esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos

Mário Cesariny de Vasconcelos, Poemas de Londres

Lições de Anatomia Estética XXIII


enquanto o sol me parte o
volume aos olhos, digo tudo
da voz que arremesso à boca, ventre
das melodias
vhm

Ainda os ossos. Das flores.

Irrompem do horror como um
girassol cravado de esquírolas.
Jorge Melícias

e
eu desaparecia boca
fora para dentro dele

valter hugo mãe

Thomas Hoepker NYC 1983

Sunday, October 7, 2007

Last Post for Electromagnetic Use Only

Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão. Esta é dedicada a quem acha isso. Como se as outras todas não fossem.



I sing the body electric

And if the body were not the soul, what is the soul?

Head, neck, hair, ears, drop and tympan of the ears,
Eyes, eye-fringes, iris of the eye, eyebrows, and the waking or
sleeping of the lids,
Mouth, tongue, lips, teeth, roof of the mouth, jaws, and the jaw-hinges,
Nose, nostrils of the nose, and the partition,
Cheeks, temples, forehead, chin, throat, back of the neck, neck-slue,
Strong shoulders, manly beard, scapula, hind-shoulders, and the
ample side-round of the chest,
Upper-arm, armpit, elbow-socket, lower-arm, arm-sinews, arm-bones,
Wrist and wrist-joints, hand, palm, knuckles, thumb, forefinger,
finger-joints, finger-nails,
Broad breast-front, curling hair of the breast, breast-bone, breast-side,
Ribs, belly, backbone, joints of the backbone,
Hips, hip-sockets, hip-strength, inward and outward round,
man-balls, man-root,
Strong set of thighs, well carrying the trunk above,
Leg-fibres, knee, knee-pan, upper-leg, under-leg,
Ankles, instep, foot-ball, toes, toe-joints, the heel;
All attitudes, all the shapeliness, all the belongings of my or your
body or of any one's body, male or female,
The lung-sponges, the stomach-sac, the bowels sweet and clean,
The brain in its folds inside the skull-frame,
Sympathies, heart-valves, palate-valves, sexuality, maternity,
Womanhood, and all that is a woman, and the man that comes from woman,
The womb, the teats, nipples, breast-milk, tears, laughter, weeping,
love-looks, love-perturbations and risings,
The voice, articulation, language, whispering, shouting aloud,
Food, drink, pulse, digestion, sweat, sleep, walking, swimming,
Poise on the hips, leaping, reclining, embracing, arm-curving and tightening,
The continual changes of the flex of the mouth, and around the eyes,
The skin, the sunburnt shade, freckles, hair,
The curious sympathy one feels when feeling with the hand the naked
meat of the body,
The circling rivers the breath, and breathing it in and out,
The beauty of the waist, and thence of the hips, and thence downward
toward the knees,
The thin red jellies within you or within me, the bones and the
marrow in the bones,
The exquisite realization of health;
O I say these are not the parts and poems of the body only, but of the soul,
O I say now these are the soul!


Walt Whitman

Do Electro ao Magnetismo: As Leis da Atracção

James Clerk Maxwell

O campo magnético é resultado do movimento de cargas eléctricas.
A força electromagnética é uma das quatro forças fundamentais.
As forças electromagnéticas interferem
nas relações intermoleculares.
O electromagnetismo, fenómeno físico,
pode ter como consequência fenómenos químicos e biológicos.

Saturday, October 6, 2007

A Propósito da Lua

Marc Chagall

Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas

Adília Lopes

Electricity: Retro Kitsch Ouverture Preview for Electronic Use Only

havia um rapaz de fogo ao peito
com medo de se apagar

vhm

Mon Coeur Mis à Nu

Picasso, Femme au Buste en Coeur


havia um lugar muito distante onde as crianças não tinham um braço no meio do peito. eram crianças horríveis apenas com um braço de cada lado, vindo de cada ombro. só muito mais tarde, já adultas, o braço do peito lhes crescia, por isso nunca se apaixonavam na adolescência, incapazes de agarrar nos corações umas das outras. o governo, quando soube de tal deficiência nos pobres habitantes daquele lugar, incapaz de suscitar o atempado crescimento desse braço tão fundamental, ordenou que se fizesse um pequeno buraco no peito de cada criança, por onde, ainda que sem lhe tocar, pudessem ver o coração umas das outras.
valter hugo mãe

Olhos Dobrados VIII

Herbert List Vienna 1944

abro as pálpebras de par em
par apavora-me deixar os olhos
cair

valter hugo mãe

Here's looking at you, kid

o que os
olhos sentem o coração
vê. pulsação que abre
paisagens aos olhos, uma
forma diferente de debitar o corpo

valter hugo mãe

Je Te Donne Mes Miettes

migalhas de
pele

valter hugo mãe

My Lips for Electronic Use Only

Deixa que o teu nome
pernoite para sempre nos meus lábios

Jorge Melícias

Soul Body for Electronic Use Only

vivem com a alma
desenfreada no corpo
tal fosse a
alma um filme
projectado no corpo como
numa tela
reconhecerei o volume da alma
agarrada com unhas e dentes às
réstias do corpo

valter hugo mãe

Get Closer: Soul Mood for Electronic Use Only

Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão. Mas e a alma, o que é que a faz estremecer?

Lições de Anatomia Estética XXII for Electronic Use Only

Poderia dizer-te dos tendões e das mãos onde eles percorrem
o seu destino. Poderia dizer-te dos olhos se quisesse ser fácil
este verso, dizer-te do mar e ser evidente, ou das órbitas onde
gravito em cada sorriso teu e construir metáforas. Do fascínio
que as sobrancelhas me impõem nos dedos

Poderia
dizer-te do sangue no corte profundo dos meus tendões, mas
quero saber o leitor focado antes nos teus, nas mãos com que
disse o primeiro verso. Vou dizer-te: os lábios. Como quem
diz nariz mas não pode, os poemas em que se dizem faces não
permitem outra pele que não a dos lábios

Jorge Reis-Sá

Flying Music

ON THE PLANE.
LOW COST.
HIGH RHYTHM.

My Mood for Electronic Use Only

Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão. Be careful with this non-electro groove: if you touch it with the skin inside your ears, you'll burn.

Amp Fiddler feat. Corinne Bailey Rae: If I Don't

Juventude em Marcha



Toda a história aqui.

My pic: Do Corpo Espacejado à Cirurgia Estética: O Teatro Anatómico da Poesia

Friday, October 5, 2007

Electro Mood II

Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro. E tem toda a razão.

Trentemøller: Moan

Electro Mood: So Glad to See You

Porque há quem ache que nada faz estremecer o corpo como o electro.

Hot Chip (ft. The Clangers): So Glad To See You

Tuesday, October 2, 2007

Le Sang d'Un Poète

Eu vi um poema cheio de sacos de sangue. Eu vi um poema a soro.

Eu vi uma caneta entrar em hemorragia. Eu vi uma mulher que dormia ao meu lado. Eu vi os seus dois braços. Eu vi que a caneta escrevia por manchas. Eu vi que era um outro alfabeto.


Guess what? Vasco Gato...

Where Does She Begin

Rhythm Is Love


Gosto disto. Gosto até mesmo muito. Keziah Jones. É da terra da Sade e da Shirley. Também gosto muito. Mais da Shirley do que da Sade.

Lições de Anatomia Estética XXI com Olhos Dobrados VII

Miguel Rio Branco

Tenho os olhos fora do sítio. E nenhuma lente, de cristal ou de leite,
terá agora o poder de corrigir toda esta anatomia em crise.
Vasco Gato

Eu, pecador, me confesso

Nunca esfolei um coração.

Vasco Gato, tira-gosto

À Ma Soeur Sorella. Mas ainda V. Gato


O medo abrevia o pulmão esquerdo. O
pulmão esquerdo é fundamental para
a mão esquerda, para a vida esquerda.
E o que tem a mão esquerda, a vida
esquerda? O pulmão esquerdo guarda
o segredo, ou melhor, a mão esquerda
vive secretamente no pulmão esquerdo.
A mão dentro do corpo é a mão que
muda, a mão que conserta as pancadas
dos cegos. As pancadas dos cegos não
podem ser eliminadas, elas fazem par-
te da vida esquerda. A mão dentro do
corpo é uma flor de violoncelo. A mão
esquerda toca todo o lado direito da
vida esquerda. O medo preocupa-se,
tem fome de pulmão. É preciso manter
a mão esquerda dentro do corpo, res-
pirar pela mão esquerda. O medo tem
uma esquerda fraca. A mão pode muito
contra o medo, a mão esquerda. Então
a vida do pulmão do nome esquerdo
começa e recomeça a escrever-se — a
vida esquerda é a única vida do corpo.


Vasco Gato, main course

Nada te faz desistir / A luta é de vida, ou de morte. Quem és tu, V. Gato?

Não se sai do abismo, aprende-se a sua linguagem.

Vasco Gato, entrada

Vais ver o que custa não ser ouvido no meio de tanto homem vendido. Quem és tu, V. Gato?

Todos os equívocos nascem da distinção entre poema e poeta. Como entre poema e leitor. Como entre poeta e leitor. Acordar é abrir um livro de poemas. Adormecer é abrir um outro livro de poemas.

Vasco Gato, amuse bouche

Quem és tu, V. Gato? O que é que te faz correr pelos cantos mais sujos desta terra?


Mas não me falaste do amor. Dois músculos obedecendo a dois nervos. A forma como dois amputados caminham abraçados. Não, espera, não o digas assim. Não há assim, há a imagem e o sangue da imagem e a vida enfeitiçada da imagem subindo pelos braços como uma serpente. Claro que a cabeça estoura. Não há outra forma de o dizer.

Vasco Gato, aperitivo

Monday, October 1, 2007

Tramontate, stelle!

Um dia, quando gostar de Ópera, vou gostar muito do Puccini.


Chi pose tanta forza nel tuo cuore?

This is D Day


Hoje é o Dia Mundial da Música. E da Santa Cecília, padroeira dela. Não comprei nenhum disco. Mas no sábado comprei 3. Foi a conta que o som fez.
Maria Rita, Samba Meu

Rosalia de Souza, Garota Diferente

The The, 45 RPM