Thursday, June 28, 2007

Fresquinho, fresquinho, fresquinho

Não se viram, não se encontraram, não se cruzaram, não tocaram juntos, não cantaram juntos. From Rio to Los Angeles, Vanessa da Mata e Ben Harper. «Boa sorte / Good luck», acabadinho de sair do forno. Porque hoje é sexta ;)

Wednesday, June 27, 2007

É comó Rock in Rio: Eu Vou


SÁBADO, 30 DE JUNHO


GERAÇÃO VINIL

Heresia da paráfrase

Creio no mundo como num malmequer
Porque o beijo.

Caeiro seen by me

Tuesday, June 26, 2007

Se ele canta, eu canto...

Juro que nunca pensei ter o Roberto Carlos a cantar neste blog. Mas esta vale a pena. Ouvi-a num táxi no Rio e achei que me tinha enganado. Mas não: eis o rei, com o MC Leozinho, e o nosso funk preferido transformado em canção delicodoce :).

Olhos Dobrados I

Susan Meiselas, NYC 2003

Butterfleyes

Vladimir Nabokov by Halsman

If my first glance of the morning was for the sun, my first thought was for the butterflies it would engender.

Literature and butterflies are the two sweetest passions known to man.

Vladimir Nabokov by himself

Lições de Anatomia Estética XI

Talvez um dos processos mais próximos da fotografia seja o bronzeamento dos corpos, essa ex­po­sição da pele (superfície pelo menos tão sensível quanto a emulsão: uma ques­tão de película) à acção dos raios solares que aí vêm depositar a sua dolorosa impressão, pro­funda, som­breada, por vezes suave, em certos sítios da anatomia do corpo, em zonas brancas, virgens, vestígios em negativo de alguma coisa que já lá esteve e se interpôs na exposição.


Philippe Dubois, O Acto Fotográfico


Martin Parr, Benidorm 1997

Constantine Manos, Daytona Beach 1997

Bruno Barbey, Ialta 1988

Burt Glinn, Las Vegas 1968

David Alan Harvey, Barcelona 1997

Dennis Stock, Atenas 1964

Lições de Anatomia Estética X

Van Gogh, Auto-Retrato com a orelha cortada


E a própria natureza exterior com os seus climas, as suas marés e tempestades de equinócio, depois da passagem de Van Gogh pela terra já não consegue manter a mesma gravitação.

Quanto à mão assada, trata-se de heroísmo puro e simples,
quanto à orelha cortada, trata-se da lógica directa
e, repito,
um mundo que dia e noite, cada vez mais, come o incomestível
para levar a sua má-vontade aos seus fins,
quanto a isto só tem
que calar o bico.

Paisagens de convulsões fortes, de traumatismos exaltados, como de um corpo que a febre trabalha para levar à saúde exacta.
O corpo sob a pele é uma oficina sobreaquecida,
e lá fora
o doente brilha,
reluz
com todos os poros
rebentados.
Também uma paisagem
de Van Gogh

ao meio-dia.
Só a guerra para todo o sempre explica uma paz que só é uma passagem,
tal como o leite prestes a derramar-se explica o tacho onde fervia.

O olhar de Van Gogh está pendurado, aparafusado, está envidraçado atrás das pálpebras quase inexistentes, das sobrancelhas magras e sem nenhuma ruga.
É um olhar que fura a direito, trespassa neste rosto feito a podão como uma árvore bem talhada.
Mas Van Gogh captou o instante em que a íris vai despejar-se no vazio,
em que esse olhar, que sai ao nosso encontro como a bomba de um meteoro, ganha a cor átona do vazio e do inerte que o preenche.

Ninguém se suicida sozinho.

Nunca houve quem estivesse sozinho para nascer.

Também nunca houve quem estivesse sozinho para morrer.


Van Gogh vu par Antonin Artaud

Vincent, a tribute to Vinyl

Starry, starry night
Paint your palette blue and gray
Look out on a summer's day
With eyes that know the darkness in my soul

Shadows on the hills
Sketch the trees and the daffodils
Catch the breeze and the winter chills
In colors on the snowy linen land

Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen, they did not know how
Perhaps they'll listen now

Starry, starry night
Flaming flowers that brightly blaze
Swirling clouds in violet haze
Reflect in Vincent's eyes of china blue

Colors changing hue
Morning fields of amber grain
Weathered faces lined in pain
Are soothed beneath the artist's loving hand

For they could not love you
But still, your love was true
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night
You took your life as lovers often do
But I could've told you, Vincent
This world was never meant
For one as beautiful as you

Starry, Starry night
Portraits hung in empty halls
Frameless heads on nameless walls
With eyes that watch the world and can't forget

Like the strangers that you've met
The ragged men in ragged clothes
The silver thorn, a bloody rose
Lie crushed and broken on the virgin snow

Now I think I know
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen, they're not listening still
Perhaps they never will

Just like Heaven

Katie Melua, a propósito de uma estimulante discussão musical no osdiscosperdidos.blogspot.com
Prefiro a dos Cure, mas gosto desta.



You
Strange as angels
Dancing in the deepest oceans
Twisting in the water
You're just like a dream


And moving lips to breathe her name
I opened up my eyes
And found myself alone alone
Alone above a raging sea
That stole the only girl I loved
And drowned her deep inside of me

Monday, June 25, 2007

Philippe Halsman

No dia em que passam 27 anos sobre a sua morte, simbólica homenagem a um dos fotógrafos mais inquietantes que o século XX viu nascer. A Marilyn e a Brigitte nunca mais foram as mesmas...












I drifted into photography like one drifts into prostitution.
First I did it to please myself, then I did it to please my friends,
and eventually I did it for the money.


Philippe Halsman dixit

From The Jump Book:
É verdade: está o Nixon a saltar, e mai-la a Marilyn, a Brigitte, e até o Jacques Tati! Que por acaso também pula por cá esta semana, já que o Mon Oncle chegou finalmente à cidade. Teatro do Campo Alegre, claro.

Today Carly is 62

Some songs are ageless

Who knows where or when
It's coming around again...


Happy Birthday, Carly Simon

Sunday, June 24, 2007

5 PRT

Voz e guitarra: Pedro; Piano: Jorge; Guitarra: Tóti; Bateria: Gonçalo

Regressaram e arrasaram. Depois do mega-sucesso «Sexta-feira outra vez», as fantásticas interpretações dos saudosos Taxi, dos GNR, dos Guns e do one-hit wonder Walking in Memphis, de Marc Cohn. Bem melhor na voz do Pedro do que na da Cher... Acrescente-se o «Molhe», um slow exclusivo destes Fantastic Five, e tem-se uma noite de São João cheia de boas recordações. Voltem, por favor, estão perdoados por terem desaparecido 15 anos das nossas festas :).

Reportagem completa @ http://www.flickr.com/photos/jofrias

Friday, June 22, 2007

Tesourinhos não-deprimentes XIV

Happy Birthday, MCM ;)

Não me canso de olhar, não me canso de ouvir

Depois de ler um Post no Discos Perdidos (http://osdiscosperdidos.blogspot.com/2007/06/cacetada-moral.html) fiquei com uma saudade incontrolável desta dupla. 40º à sombra com Damien Rice ao fundo.

Monday, June 18, 2007

A banalidade do mal, a tentação do bem

Não queríamos ir a Auschwitz mas também não queríamos não ir a Auschwitz.

Tinha havido sol todos os dias em Cracóvia e nesse dia choveu - mas isso era o mínimo que nos podia acontecer, eu teria aceitado uma trovoada, uma tempestade, um tremor de terra, um dilúvio, eventualmente até uma forma menor de apocalipse. Estranhas coisas aconteceram em Auschwitz, estranhas coisas deviam (ou pelo menos podiam, seria absolutamente legítimo, absolutamente inquestionável) acontecer a quem entra em Auschwitz, é assim nos filmes quando há intrusos em casas assombradas e não há outra maneira de pensar em Auschwitz a não ser como uma enorme, descomunal, casa assombrada.

Agora íamos entrar e tínhamos medo: medo de estar lá, medo de não estar lá (lá, à altura daquilo, mesmo que aquilo fosse no fundo uma coisa muito baixa, muito primária) e ao mesmo tempo quem éramos nós para ter medo (ninguém, não éramos ninguém), mas também, ao mesmo tempo, quem éramos nós para estar ali.

Deve haver maneiras certas e maneiras erradas de estar em Auschwitz, mas nunca acreditámos muito nisso: Auschwitz é um sítio em que está tudo mal, haver museu e não haver museu, haver turistas e não haver turistas, haver restaurante e não haver restaurante, pagar para entrar e não pagar para entrar. Mas sobretudo Auschwitz também é um sítio onde está tudo bem, como aprendemos há uns anos, quando um sobrevivente do Holocausto ganhou o Nobel da Literatura por dizer que foi feliz nos campos de concentração.

Ele disse «belo campo de concentração».
Ele disse sim, «eu gostaria de viver um pouco mais neste belo campo de concentração».

E dependendo da maneira como olhamos para aquilo - as casas de pedra idênticas de Auschwitz 1, as, não conseguimos dizer lindas, barracas de Auschwitz 2 -, dependendo da maneira como vemos ali uma história de sobrevivência, é capaz de ter razão (e também é capaz de não ter, porque Auschwitz é o grau zero da razão, ou pelo menos o grau zero da moral).

Mas sim, é capaz de ter razão. Quem somos nós para dizer o contrário?

Inês Nadais, «Auschwitz 2», Público-Ípsilon
Sexta-feira 15 de Junho de 2007


VER





Alain Resnais, Nuit et Brouillard


Errol Morris, Mr. Death



LER


Hannah Arendt, Eichmann em Jerusalém:
Relatório sobre a Banalidade do Mal
Tzvetan Todorov, Memória do Mal, Tentação do Bem


PENSAR


não há absurdo que não se possa viver naturalmente, e, no meu caminho, já sei, espreita-me qual armadilha inelutável a felicidade. [...] Toda a gente me pergunta só pelas vicissitudes, pelos «horrores»: todavia, no que me diz respeito, é talvez essa a experiência mais memorável. Sim, é disso, da felicidade dos campos de concentração, que eu lhes falarei na próxima vez, quando me perguntarem. Se é que perguntam. E se eu próprio não me esqueci.

Quando alguém escreve sobre Auschwitz deve saber que Auschwitz, pelo menos em certo sentido, deixou a literatura em suspenso. Sobre Auschwitz só se pode escrever um romance negro ou - desculpem a expressão - um folhetim cuja acção começa ali e ainda não acabou. Com isto quero dizer que desde Auschwitz não aconteceu nada capaz de o suprimir ou impugnar.


A natureza humana pode virar-se contra a vida humana.

Imre Kertész


O que resta de um homem quando todas as condições de existência humana lhe são subtraídas?


exactamente porque o Lager é uma grande máquina de nos reduzir a animais, nós não devemos tornar-nos animais.
Primo Levi
«Primo Levi morreu em Auschwitz quarenta anos depois»
Elie Wiesel

Friday, June 15, 2007

Tesourinhos não-deprimentes XIII



CHOPIN: UM INVENTÁRIO

Quase sessenta mazurcas; cerca de trinta estudos;
duas dúzias de prelúdios; uma vintena de nocturnos;
umas quinze valsas; mais de uma dúzia de «polonaises»;
«scherzos», improvisos, e baladas, quatro de cada;
três sonatas para piano; e dois concertos para piano e orquestra,
uma «berceuse», uma barcarola, uma fantasia, uma tarantela, etc.,
além de umas dezassete canções para canto e piano; uma tuberculose mortal;
um talento de concertista; muitos sucessos mundanos; uma paixão infeliz;
uma ligação célebre com mulher ilustre; outras ligações sortidas;
uma pátria sem fronteiras seguras nem independência concreta;
a Europa francesa do Romantismo; várias amizades com homens eminentes;
e apenas trinta e nove anos de vida. Outros viveram menos, escreveram mais,
comeram mais amargo o classicamente amargo pão do exílio, foram ignorados
ou combatidos, morreram abandonados, não se passearam nas alcovas
ou nos salões da glória, confinaram-se menos ao instrumento que melhor dominavam,
e mesmo foram mais apátridas sofrendo uma pátria que não haja.
Além disso, quase todos escaparam mais à possibilidade repelente
de ser melodia das virgens, ritmo dos castrados,
requebro de meia-tijela, nostalgia dos analfabetos,
e outras coisas medíocres e mesquinhas da vulgaridade, como ele não. Ou de ser
prato de não resistência para os concertistas que tocam para as pessoas que julgam
que gostam de música mas não gostam. Ainda por cima
era um arrivista, um pedante convencido da aristocracia que não tinha,
um reaccionário ansiando por revoluções que libertassem as oligarquias
da Polónia, coitadinhas, e outras. E, para cúmulo,
a gente começa a desconfiar de que não era sequer um romântico,
pelo menos da maneira que ele fingiu ser e deixou entender que era.
Uma arte de compor a música como quem escreve um poema,
a força que se disfarça em languidez, um ar de inspiração
ocultando a estrutura, uma melancolia harmónica por sobre
a ironia melódica (ou o contrário), a magia dos ritmos
usada para esconder o pensamento — e escondê-lo tanto,
que ainda passa por burro de génio este homem que tinha o pensamento nos dedos,
e cuja audácia usava a máscara do sentimento ou das formas livres
para criar-se a si mesmo. Tão hábil na sua cozinha, que pode servir-se
morno, às horas da saudade e da amargura,
quente, nas grandes ocasiões da vida triunfal,
e frio, quando só a música dirá o desespero vácuo
de ser-se piano e nada mais no mundo.


Jorge de Sena, Arte de Música

Thursday, June 14, 2007

SENA: UMA METAMORFOSE

Ele teria desdobrado a água
nesse espelho transparente que a si se reflecte
na ausência de ver-se no rosto dos outros.
Diria da água como se diz de uma melodia
que é cristalina. Uma arte de escrever uma música
como quem compõe um poema. E os dedos de Chopin,
nocturnos, dilacerados em luz. Mas e a água?
De uma languidez disfarçada em força,
febril no momento da criação, romântica no génio.
Senhora dessa arte de perder-se em vagas de som
silenciadas pela aragem nas teclas. E, claro, Chopin,
quando só a água gritar o pleno desespero
de ser-se rio e nada mais na melodia.

Contraponto, ou Pachebel




Um corpo que se adensa, rastejando.
Uma espiral de luz, vitrais de violinos
a latejar mais e mais o medo.
Notas e sons assim, encharcados
de tanto nadarem na calma da morte.
Sangue na ponta dos dedos,
na ponta da língua — o fel,
Cordas que adejam à mais leve brisa.
Tudo lancinante, profundo, letal,
a morte, a dor, a morte,
O amor.
Um manto de amantes
trespassados pela vida.
Um corpo que rasteja, adensando-se
na sede de roçar por algo
que faça parte do seu negar-se.
Um rastejo, um réptil
desejo de entregar-se de si a si,
um pasmo lânguido — sereno grito
no calar-se assim, de não ter dito nada.
Duas vozes fundidas no prazer e na morte
cantam uma contra a outra.
Dois gritos, sem cor, luz ou som.
Infante modo de falar sem saber
que o silêncio é a pior forma
de dar à luz a escuridão.
No ventre do violino
as cordas tocam -
- em carne viva.

Tuesday, June 12, 2007

Lições de Anatomia Estética IX

como se um olho sem pálpebra se abrisse
na ponta dos dedos

Jacques Derrida, Mémoires d'Aveugle


Abba Richman, Finger in the eye

Os Olhos de Odilon









Eyes wide shut by Odilon Redon (1840-1916)


Inelutável modalidade do visível: pelo menos, se não mais, pensado através dos meus olhos. Estou aqui para ler as assinaturas de todas as coisas, ovas e sargaços, a maré que se aproxima, essa bota corroída.
Verderanho, azul de prata, ferrugem: sinais coloridos.
Limites do diáfano. Mas acrescenta: nos corpos.
Então é porque tinha consciência deles, coloridos. Como? Batendo com a cachimónia contra eles, é claro. Deva­gar. Calvo era ele e milionário, maestro di color che sanno.
Limite do diáfano em. Por quê em? Diáfano, adiáfano.
Se podes meter os cinco dedos através, é um portão, senão é uma porta.
Fecha os olhos e vê.

James Joyce, Ulisses (1922), Capítulo 3

Lições de Anatomia Estética VIII



tenho
romantismo na medula dos ossos
Ruy Cinatti

Tesourinho Quase Deprimente

Junho sem sol já é mau. Junho sem Euro ou Mundial não é Junho.

Thursday, June 7, 2007

Le Rouge

Le Mépris


Totalement, tendrement, tragiquement

Tuesday, June 5, 2007

Lições de Anatomia Estética VII-Coda

Ó tocadora de harpa, se eu ouvisse
Teu gesto, sem ouvir a tua voz!

Lições de Anatomia Estética VII


Ó tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!


Fernando Pessoa

Dante Gabriel Rossetti, The Harp Player, c. 1857



Joannna Newsom at Toronto, 2006

Análise

R. Magritte, L'Amour Aveugle

Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica ao meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
À ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

Fernando Pessoa

Monday, June 4, 2007

Lições de Anatomia Estética VI

no dia em que fiquei cego decidi ser fotógrafo

Al Berto

Dziga Vertov, Kino-Eye

Sunday, June 3, 2007

Lições de Anatomia Estética V





Let me introduce you to Herbert Bayer (1900-1985), um dos fotógrafos mais fascinantes da Bauhaus

My (sub)titles:

1. As mãos arregaladas

2. O braço espacejado

3. O pavão de Argus