Friday, August 31, 2007

Summer Leaves






My pics

Wednesday, August 29, 2007

Birthday Party

Há dias assim, absolutamente invulgares. Pela parte que me toca, hoje festejo o aniversário de nascimento de John Locke filósofo, do Aleijadinho escultor, de Ingres pintor, de Maurice Maeterlinck escritor, de Ingrid Bergman actriz - que resolveu morrer também no dia do aniversário, para não multiplicar as comemorações -, de Charlie Parker músico, de Richard Attenborough realizador, de Dinah Washington cantora, de Thom Gunn poeta, de Joel Schumacher realizador, de Edu Lobo cantor, de Michael Jackson cantor e de Me'Shell NdegéOcello cantora, descoberta muito recente da minha melofagia. Os tributos não são fáceis, mas como a música vence em quantidade, aqui ficam quatro cheirinhos para os ouvidos desta improvável festa de aniversário.

Happy Bird-day, Charlie

N. 29 de Agosto de 1920

Happy Birthday, Dinah

N. 29 de Agosto de 1924

Happy Birthday, Edu: Original Life Soundtrack IV

N. 29 de Agosto de 1943.

Happy Birthday, Me'Shell

N. 29 de Agosto de 1969

Tuesday, August 28, 2007

Segundo Intermezzo: Fly Me to the Moon

Porque o dia é de lua cheia e de eclipse

free music


A LUAVEZINHA


Minha filha tem um adormecer custoso. Ninguém sabe os medos que o sono acorda nela. Cada noite sou chamado a pai e invento-lhe um embalo. Desse encargo me saio sempre mal. Já vou pontuando fim na história quando ela me pede mais:
- E depois?
O que Rita quer é que o mundo inteiro seja adormecido. E ela sempre argumenta um sonho de encontro ao sono: quer ser lua. A menina quer luarejar e, os dois, faz contarmo-nos assim, eu terra, ela lua. As tradições moçambicanas ainda lhe aumentam o namoro lunar. A menina ouve, em plena verdade da rua: «olha os cornos da lua estão para baixo: vai cair a chuva que a lua guarda na barriga».
Me deu, um destes dias, a ideia de lhe contar uma estorinha para fazer pousar o sonho dela. E desencorajar seus infindáveis «e depois». Lhe inventei a estória que agora vos conto.
Era uma avezita que sonhava em seu poleirinho. Olhava o luar e fazia subir fantasias pelo céu. Seu sonho se imensidava:
- Hei-de pousar lá, na lua.
Os outros lhe chamavam à térrea realidade. Mas o passarinho devaneava, insistonto: vou subir lá, mais acima que os firmamentos. Seus colegas de galho se riram: aquilo não passava de menineira. Todos sabiam: não havia voo que bastasse para vencer aquela distancia. Mas o passarinho sonhador não se compadecia. Ele queria luarar-se. Pelo que o tudo ficava nada.
Certa noite, de lua inteira, ele se lançou nos céus, cheio de sonho. E voou, voou, voou. Perdeu conta do tempo. Em certo momento ele não sabia se subia, se tombava. Seus sentidos se enrolaram uns nos outros. Desmaiou? Ou sonhou que sonhava? Certo é que seu corpo foi sacudido pelo embute de um outro corpo.
E pousou naquela terra da lua, imensa savana pétrea. A ave contemplou aquela extensão de luz e ficou esperando a noite para adormecer. Mas noite nenhuma chegou. Na lua não faz dia nem noite. É sempre luz. E o pássaro cansado de sua vigília quis voltar à terra. Bateu as asas mas não viu seu corpo se suspender. As asas se tinham convertido em luar. Com o bico desalisou as penas. Mas penas já nem eram: agora, simples reflexos, rebrilhos de um sol coado. O pássaro lançou seu grito, esses que deflagrava antes de se erguer nos céus. Mas sua voz ficou na intenção. A ave estava emudecida. Porque na lua o céu é quase pouco. E sem céu não existe canto.
Triste, ela chorou. Mas as lágrimas não escorreram. Ficaram pedrinhas na berma da pálpebra, cristais de prata. A avezita estava cativa da lua, aprisionada em seu próprio sonho. Foi então que ela escutou uma voz feita de ecos. Era a própria carne da lua falando:
- Eu sonhei que tu vinhas cantar-me.
- E porquê me sonhaste?
- Porque aqui não há voz vivente.
- Eu também sonhei que haveria de pousar em ti.
- Eu sei. Agora vais cantar em luar. Eu sonhei assim e nenhum sonho é mais forte que o meu.
É assim que ainda hoje se vê, lá na prata da lua, a pupila estrelinhada do passarinho sonhador. E nenhuma criatura, a não ser a noite, escuta o canto da avezinha enluarada. Sobre as primeiras folhas da madrugada, tombam gotas de cacimbo. São lagriminhas do pássaro que sonhou pousar na lua.
- E depois, pai?

A MENINA SEM PALAVRA

Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como uma baloa.
Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário em todas as direcções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares. Olhou o horizonte e chamou:- Pai! Então, se abriu uma fenda funda, a ferida de nascença da própria terra. Dos lábios dessa cicatriz se derramava sangue. A água sangrava? O sangue se aguava? E foi assim. Essa foi uma vez.

Mia Couto, Contos do Nascer da Terra

CODA

Não é da luz do sol que carecemos. Milenarmente a grande estrela iluminou a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver.
O mundo necessita ser visto sob outra luz: a luz da lua, essa claridade que cai com respeito e delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres. Só a lua revela intimidade de nossa morada terrestre.
Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra.

Monday, August 27, 2007

Um Puro Poeta,

assim o inesqueceu Jorge de Sena.

ALBERTO DE LACERDA
1928-2007

SOLIDÃO

Meu touro negro na praça vazia

TOURO E TOUREIRO

Diónisos negro em agonia
Em frente à graça rútila de Apolo

TOURO DE MORTE

Vorazmente
Passar do negro ao vermelho

TOURO II

Rocha ágil
Completamente negra

A única praia possível

É uma poça de sangue

Tauromagia
1962-1963

A MEIO DO CAMINHO

Fico entre o céu e a terra.
Choro só para dentro.
Sou como a árvore nua
qua ao alto os ramos indica:
ergue as asas, mas não voa,
tem raízes, mas não desce.

Cadernos de Poesia
Julho de 1951

Saturday, August 25, 2007

Eduardo Mãos de Tesouro

Eduardo Prado Coelho

29 de Março 1944-25 de Agosto 2007

E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando

Friday, August 24, 2007

Intermezzo: Turkish Delight

Repetição dedicada às luas e luares de todo o mundo, e de alguns países em especial.

Thursday, August 2, 2007

Post 202. Through the Eye of the Knee-dle: A Tribute to the Summer of 65

HAPPY DAY SOUNDTRACK


free music


Em dia de festa,

MONTAGEM PARA MANU ELE

Laisse que je plie un genou devant ta brune erreur
Deixa que eu dobre um joelho na tua boca morena
En hospitales donde los huesos salen por la ventana,
Em hospitais onde os ossos saem pelo vento dentro
Neste país onde os homens são só até ao joelho
do poema
E o joelho que bom está tão barato
Volto então ao teu
joelho entreabrindo-te
os olhos
pela mão no joelho que se abre
ponho um beijo
demorado
no topo da tua mão.
O mistério começa do joelho para dentro.
O que faremos quando os cães vierem?
Eles gostam de ossos:
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
E ai, na areia anónima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.
Agora jantaremos a medula
das estrelas com seus ossos
depois da chuva de prata.
Com um punho cravado na medula,
uma lua no sangue, um girassol nos rins.
Os meus ossos estão espetados no deserto
dessas gargantas. Deixo a boca
seguir o desejo nelas.
Un jour d’épaule nue Um dia de ombros nus
Um dia de sombras
Cravadas como ossos
Na areia do deserto.
Seria absurdo falar-se de esqueleto.
Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se agora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Finges dormir para que a dor não deixe rastro no sangue.
The blood of light on thy lips.
Espero contra essas veias, no meio
dos ossos quentes.
Chama-se
com ossos de cinza e cabelos em chama.
No meio está uma fogueira
e a eternidade das mãos.
Com os ossos imensos incendeio as casas
rente à claridade da pele:
rente aos ossos com toda a exactidão
das palavras nuas e deslumbradas.
A chuva mansa lavará tudo:
levará tudo, até chegar
aos duros ossos desnudados
e os ossos, os ossos esquecem.
Não somos os olhos de ninguém:
um resto de sítios atados nos ossos é um coração?
Vou entrando no teu tempo com esta cor de sangue,
acendo as falangetas,
cerco-te com as duas mãos
e as mãos enterram-se na parte mais viva do mundo.
Fica sobre a terra o espaço das mãos.
Mas entre o seguinte: entre ossos e chão.
Terra adentro a boca a encher-se-me de olhos
até que irrompa a manhã.
Gosto de ti como se gosta do sol, e era bom
ficar ao sol todo o dia, mas queima.
Podes ter mãos. Podias até, alguma vez, ter lábios,
dizer alguma coisa em língua, numa língua qualquer.
Abraço-te
devagarinho, com as costas dos ossos,
com pedacinhos de ossos, huesitos,
e o abraço tem a mesma
violência constante dos ossos calcinados.
Ergo nos dedos olhos esmagados
e fica o pó das folhas nas retinas.
Mistura
no sangue e na saliva o azul, a carne.
Sentado como se estivesses
sentado sobre o mar,
escuta o lento bater das ondas nos confins dos ossos.
Je voyais je voyais l’avenir à genoux
Eu vejo eu vejo os joelhos que vêem
e o joelho que bom é só até à ilharga
uso dos meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite
no país onde os homens são só até ao joelho.
Comeremos a medula do almoço,
a acompanhar o vento
que arrasta consigo esta chuva de fósforo e
estes presságios de tranquilos ossos.
Entalaremos na garganta
a árvore que cresce nos pulmões.
Quero é esse esqueleto mais de dentro:
o aço do osso, que resiste
quando o osso perde seu cimento.
E é outra ossatura mais forte
que a armação comum, de todos;
debaixo da própria carne,
no fundo centro de seus ossos.
São-me necessárias imagens radiografias de olhos
Rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser estes dentes rasgados no lugar dos ossos
Toca-me o rasto com o teu nome, ou pousa-me sobre as mãos
e espalha os dedos em volta, no colo aquecido
do vento que instala a dobra azul dos cotovelos.
Minhas pequenas dívidas multiplicam os dentes,
furam pelos dedos as vísceras
intensas do vento, estremecem
nos cotovelos completos.
Este mar
não vai parar na minha pele, este vento
começa a negar-me os olhos.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.
Dobro os cotovelos na gaveta,
onde se guarda o tempo ocupado
das palavras, em seu osso.
Mas os olhos: nossos um bicho guarda,
intactos em seu tempo, intermináveis.
Olhas-te no espelho vês-te
um nome um corpo um gesto
comes
a árvore com a saliva das unhas.
Debruça-te para dentro de mim e deixa que o segredo do tempo fulmine os ossos.
Eis como
um osso curva
o teu riso no meio das ruas:
como se tivesse olhos na nuca.
Vejo a toda a volta o teu silêncio.
E fecho os ossos para não te ver.
Se o meu corpo deslizasse em olhos de sangue
saberia estalar os ossos das tuas mãos
mudas, onde os dedos despontam
como a rótula no cruzar das pernas.
Porém bastante sangue nunca existe guardado em veias
- ou em olhos -
e por isso o dia esvai-se quando, nos céus, se enchem de fogo os olhos vazios da noite.
A luz da tarde mostra-me os destrossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Para o homem capaz de roer
os ossos do ofício
o tempo de sedução terminou:
terá de trocar o tacto dos olhos pelo tacto das velas.
O mar é este azul-sangue
Dos olhos dilatados, olhos de navio
atentos à coagulação das imagens.
No silêncio das marés
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as perdas)
ouço a água nos teus olhos.
A maré sobe
a boca do mar
sobre os pulsos
já a sinto. É a noite
toda nos meus passos,
peixes que se miram no vidro da retina
fundamentais que nem olhos.
E mesmo sob a pálpebra da treva
Talvez ouças como os meus olhos nos teus
se deitam.
Todas estas noites com o carvão em redor dos olhos,
o gesso do sangue nas pálpebras dos dentes
nada se move dentro ou fora de mim,
excepto o vento no interior dos ossos.
Não abras
os teus olhos contra os ossos da minha cara.
Seria íntimo como um joelho sem pálpebra aberto na nossa mão.


Montagem feita com versos roubados a: Abelardo Linares, Affonso Romano de Sant’Anna, Al Berto, Albano Martins, Ana Marques Gastão, António Franco Alexan­dre, Archibald Macleish, Camilo Pessanha, Carlos Drummond de Andrade, Casimiro de Bri­to, Constantine Cavafy, Fernando Assis Pacheco, Ferreira Gullar, Gastão Cruz, Helder Noura Pereira, Her­ber­to Helder, Ivan Junqueira, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Manuel Magalhães, José Gomes Ferreira, Louis Aragon, Luís Miguel Nava, Maria Teresa Horta, Mário Cesa­riny de Vasconcelos, Murilo Mendes, Pablo Neruda, Pierre Jean Jouve, Sophia de Mello Breyner Andresen, Vasko Popa e Vinicius de Moraes.

Wednesday, August 1, 2007

Soloeil

A dobra está quase quase a fechar os olhos. Amanhã será a última olhadela de Agosto. As pupilas precisam de descanso. Por aqui ficam as pestanas, para não deixar passar sol a mais. Para quem desejar desdobrar os ouvidos, aqui fica também uma selecção musical adequada ao espírito da época. São cerca de 150 músicas, com direito a Play, a Skip, a Scroll Down and Up. Uma playlist de Verão que pode ser refrescada todos os dias.

Enjoy it. See u :)


free music

Summer of 69

Gosto muito da praia.
Lá acontecem coisas destas.

Vista de Olhos pela Mala