Wednesday, October 28, 2009

é sempre a tremer que levo o sol à boca


Dennis Stock
Flowers
1964


Dennis Stock
Sun
1970


Bruno Barbey
PORTUGAL
1993

Tuesday, October 27, 2009

...this feeling is more than simple words can declare...

nítido como um girassol

O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e a esquerda
E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial que tem uma criança
Se ao nascer, reparasse que nasceras deveras...

Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo

Creio no mundo como um malmequer
Porque o vejo, mas não penso nele
Porque pensar é não compreender

O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque a amo, amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama.
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência
E a única inocência é não pensar.

Alberto Caeiro

A perfect beauty of a sunflower! a perfect excellent lovely sunflower existence! a sweet natural eye to the new hip moon, woke up alive and excited grasping in the sunset shadow sunrise golden monthly breeze!


Allen Ginsberg

Friday, October 23, 2009

Thursday, October 22, 2009

Wednesday, October 21, 2009

my tate / my taste #2

DOROTHEA TANNING




Monday, October 19, 2009

J'ai des souvenirs de musiques
comme on a des souvenirs d'amours.
paraphrase de Valéry-Larbaud





La mémoire la plus profonde
est une mémoire de toute notre destinée.
Jean Guitton

my tate / my taste #1

JOHN BALDESSARI





Saturday, October 17, 2009

blu to blu

The brain is wider than the sky,
For, put them side by side,
The one the other will include
With ease, and you beside.

The brain is deeper than the sea,
For, hold them, blue to blue,
The one the other will absorb,
As sponges, buckets do.

The brain is just the weight of God,
For, lift them, pound for pound,
And they will differ, if they do,
As syllable from sound.

Emily Dickinson

life-blowing

A death-blow is a life-blow to some
Who, till they died, did not alive become;
Who, had they lived, had died, but when
They died, vitality begun.


Emily Dickinson

todo o dia é dia de viver, toda a noite é noite de ouvir

Thursday, October 15, 2009

blu lyrics for a golden day

do inexplicável

Acontecera que as coisas se destruíssem sem que nelas sobrevivesse
E era tarde.
Sozinho em tempos não fora a falta de ninguém
E o que doía não tinha o quisto da doença
Só o espaço sereno das coisas que se deixam.
Acontecera que nada se fizera fora
Do coração.
Acontecera que passara a noite a abrir os olhos
Para não se interromper
A estender a mão para estar vivo
E certo de que nem ele próprio se abeiraria de si mesmo
Pois ocupara-se rigorosamente de ausentar-se.
Mesmo se caminhara muito devagar
Sem outro meio para esperar que o visitassem.
Ele que é agora o que nunca repousou
O que nunca encontrará o sítio do sossego
A não ser que haja o equilíbrio na vertigem
Uma luz parada no meio da voragem.

Daniel Faria

novo elogio da traição

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.

Emily Dickinson

A palavra morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.

Emily Dickinson, trad. Augusto de Campos

elogio da traição

Could mortal lip divine
The undeveloped Freight
Of a delivered syllable
‘Twould crumble with the weight.


Emily Dickinson

Se o lábio hábil a sílaba
Soubesse sopesar,
Poderia, surpreso,
Ruir sob o seu peso.

Emily Dickinson, trad. Augusto de Campos

If recollecting were forgetting,
Then I remember not.
And if forgetting, recollecting,
How near I had forgot.
And if to miss, were merry,
And to mourn, were gay,
How very blithe the fingers
That gathered this, Today!

Emily, today

october, a blue and gold mistake


These are the days when Birds come back-
A very few- a Bird or two -
To take a backward look.

These are the days when skies resume
The old - old sophistries of June -
A blue and gold mistake.

Oh fraud that cannot cheat the Bee -
Almost thy plausibility
Induces my belief.

Till ranks of seeds their witness bear -
And softly thro' the altered air
Hurries a timid leaf.

Oh Sacrament of summer days,
Oh Last Communion in the Haze -
Permit a child to join.

Thy sacred emblems to partake -
Thy consecrated bread to take
And thine immortal wine!

Emily Dickinson

Wednesday, October 14, 2009

une danse est un poème

i like london with no rain


Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam de esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres

quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos

Mário Cesariny, Poemas de Londres

Tuesday, October 6, 2009

olha que chuva boa que traz o azul...

...olha o jasmineiro está florido...


Sunday, October 4, 2009

a careless bird is complicated

stuck with a valuable friend



David Bowie - Ashes To Ashes
Found at skreemr.com

Thursday, October 1, 2009

Dia Mundial da Música. No Coração.

Da música poderemos também dizer que é uma ciência de Eros,

do amor em relação à harmonia e ao ritmo.

Platão



coração do dia

Ergue-te de mim,
substância pura do meu canto.
Luz terrestre, fragrância.
Ergue-te, jasmim.

Ergue-te, e aquece
a cal e a pedra,
as mãos e a alma.
Inunda, reina, amanhece.

Ao menos tu sê ave,
primavera excessiva.
Ergue-te de mim:
canta, delira, arde.

Eugénio de Andrade