Qual era a natureza do Dom das línguas recebido pelos apóstolos? Quando lemos São Paulo (1 Cor, 14), podemos supor que se trata da glossolalia (e portanto do dom de se exprimir numa língua extáctica, que todo o mundo compreendia como se se tratasse da sua própria língua). Mas se lermos os Actos dos Apóstolos 2, diz-se que no Pentecostes veio do céu um estrondo, e que sobre cada um deles se colocaram as línguas de fogo, eles começaram a falar noutras línguas – e teriam recebido o Dom, senão da xenoglossia (isto é, do poliglotismo), pelo menos de um serviço místico de tradução simultânea. No primeiro caso, a possibilidade de falar a língua santa anterior à Torre de Babel teria sido dada aos Apóstolos. No segundo caso, ter-lhes-ia sido dada a graça de reencontrar em Babel não o signo de uma derrota e uma ferida a curar a qualquer preço, mas a chave de uma nova aliança e de um novo acordo.
Umberto Eco, La Ricerca della Lingua Perfetta
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