Nada mais do que a batida de um saxofone
pela estrada dentro. A América
cresce ao ritmo da voz negra
de um branco numa sala traseira.
A estrada protege-nos o rosto,
afinal é o ponto da perda,
o lugar onde tudo se reflecte
no espectro dos pássaros da tarde.
Droga-te com estas palavras
que roçam o asfalto da vida.
A loucura é o nível mais alto
do mundo, a curva de um trópico
rumo à Terra do Fogo:
Burn, burn, burn
like fabulous yellow roman candles
exploding
like spiders across the stars.
E arder não é mais
do que uma pradaria arrepiada
pelo sol da noite em flor.
A estrada segue sobre rodas
rumo ao inferno, uma densa
eternidade amortalhada penetra
na boca em transe, suspensa
na limpidez de um grito em agonia.
O Mississippi lava a América,
o seu corpo em carne viva. Agora
a estrada é água, cola-se à transparência
e move-se por entre um barco que voa
na crescente ausência do espaço.
Assim se atravessa a eternidade,
na dissolução do Grande Golfo da Noite,
nos quilómetros desolados da paisagem,
nos espaços azuis rasgados pelo céu,
como se a página fosse o Vale do Mundo.
Estremece-se com a intuição do tempo
ao receber o mundo em bruto. A nudez.
O lugar comum,
but no matter,
the road is life.
Nunca se morre o suficiente
para se poder chorar, dirias,
guardando a vida na mão como um bocado de lixo.
Das borboletas ainda nascem nuvens,
afinal é possível que a poeira suba
às estrelas que trespassam a escuridão.
Lonely as America,
a throatpierced sound in the night:
a solidão explode
no som entrecortado do saxofone
sobre a espuma das ondas
de música brutal.
A estrada do som,
a estrada dos santos,
a estrada dos doidos,
a estrada do arco-íris,
a estrada interminável,
um demoníaco reflexo da noite negra
no asfalto. Os sonhos terminam,
o mundo espraia-se, trémulo,
palpita pela estrada fora,
é a ira que chega à velha dança.
Um rochedo explode em flor,
o abismo oscila ao mais pequeno toque,
é um precipício seráfico e frenético.
Tudo vibra, a grande serpente emerge
na imobilidade dos gestos,
um insecto sai da tarde americana
picando a realidade, a estrada está prestes
a sair da América, de toda essa terra bruta
de pessoas dispersas na imensidão.
No regresso, resta apenas
percorrer a virgindade da berma.
Friday, February 9, 2007
ON THE ROAD com Kerouac
Seen by Joana Blu at 4:45 AM
Labels: Beat Generation, Novel, Poetry
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