Saturday, February 10, 2007

Poros

Naquele dia trazias nuvens de sangue
a toldar-te o céu da boca.
Trazias o espanto estampado na voz
boquiaberta a língua em bico
como os olhos os cabelos sobre a testa
como pó talco arrancado pelo suor das unhas.
Trazias notícias de jornais amarelos
linhas dos poros do mundo escritas na pele

como se na pele as letras não desmaiassem de pasmo

como se na pele o pasmo não desmaiasse do excesso
de notícias e de letras em pó.
Naquele dia trazias nuvens de pasmo
e de espanto trazias sangue na voz
e pele pendurada no último grito
trazias farrapos de sons
as unhas na face
o meu rosto em pó.
Nesse dia choveu no céu da nossa boca.
E até a fala sangrou nos poros.

1 comment:

niño said...

Pena não estar assinado .... há "textos" que merecem conhecer o seu autor. Este mexeu connosco.

Bjs da Teresinha e do Niño